sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Lista de desejos 2



 

     Ele vinha com o mesmo sorriso de outrora, escondia de si uma dor que todos sabiam de cor, mas levava, desta vez com leveza, os dias de agora. Já não tinha mais nada a perder, logo, já não tinha dívidas. Sem credo, credores, dúvidas por demais e afirmações por menos. Era uma fotografia de si apagando as sombras e os passos em falso do passado. Apontava para o futuro, mas residia no presente. Esquecia o próprio nome e queria ser lembrado por sua presença, uma estátua de ar de quem tentava beirar o incapturável.

     Poucas demandas, apenas exigia que as coisas fossem o que fossem. Nem mais do que poderiam ser e nem menos do que já eram, sem a pretensão de causar o encanto ou o receio do desprezo, apenas ser em primeiro plano e pensar como conseqüência das ações e não o contrário. Sentir o mundo ao invés de observá-lo e até mesmo vivê-lo abdicando de guardá-lo em caixinhas que muitos rotularam como fotografia e vídeo.

     Um ano que acabava, um ciclo que se fecha em um calendário que não (de)marca seu tempo. Os pontos finais que escrevia hoje refletiam as páginas em branco que foram imprescindíveis para que continuasse seu livro. Catalogou erros e só insistiu no que estaria para além do bem e do mal, mas dessa vez sabia que o não e o sim eram a mesma resposta.

     Ainda tinha uma grande lista de desejos, mas todos demandavam cúmplices e uma vez sozinho, estaria no máximo na esfera do inviável. Ninguém os via, desconfiavam, mas ainda assim não os percebiam. Não eram desejos secretos, estavam lá, mas de tão transparentes, ninguém (n)os via...






 


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Lista de desejos 1


     Posando de diferente ou de intelectual acho que todo mundo acaba fazendo isso de vez em quando o tempo todo. Eu, enquanto pessoa reconhecida, pessoa reconhecida de meus limites, reconhecida de minhas posses e de quase nenhuma possessividade, acabo cedendo diante dos limites alheios por considerar isso uma superação dos meus próprios limites. Hoje sou praticante da intolerância, mesmo que um dia já tenha, por intolerância com a estagnação, em um passado remoto, decidido exercitar minha tolerância com o que aos meus olhos soaria absurdo. Obviamente, como se fosse algo inerente à nossa espécie, acabei abdicando de mim por outrem que sempre me foi e me será alheio. Se tivesse alguma moral na minha história, sem dúvida ela estaria convergindo para o ponto em que percebo a magnitude desse equívoco. Não aspiro à nobreza ou mesmo a um latifúndio no céu, viver contempla quaisquer demandas de quem abdica da idéia de ser um animal de rebanho. Ratifico meus passos na escuridão, porque já não sou homem de estar sob a penumbra e não me apetece os holofotes ou o lugar ao som disputado por tantos. Ando só, ando e só. Nem há mais, nem há menos, sem espaço para mais ou menos. Apenas sou, ou mesmo, quando muito estou. Não carrego a pretensão de ser o melhor ou a culpa por não o sê-lo. Acordo cada dia mais leve, sem peso ou pesar que me prenda. Dívidas e dúvidas? Passado é memória e o futuro só acontece daqui a um segundo...

 

     Indo ao quem vim, ratifico a proposta deste espaço em dar sentido e espaços para o que pode ser dito em entrelinhas. Um caderno secreto guardado em cima da mesa, de tão exposto ninguém percebe e por aqui se jogam palavras amontoadas que me denunciam em fragmentos de personagens que invento quando canso de brincar sozinho. Coincidentemente, escrevo aqui ao som de “wish list” do Pearl Jam o que poderia soar como carta de natal se essa música pudesse ser por um instante uma canção natalina. O meu intuito, uma vez que me rendi ao encanto do Natal, era enumerar por mera despretensão as coisas que poderiam conter em uma lista de desejos que não precisaria no Natal para acontecer...

 


“Eu queria ser o souvenir sobre o qual você guarda
a chave da casa.
Eu queria ser o pedal do freio do qual
você dependesse.
Eu queria ser o verbo "confiar" e
nunca te decepcionar.

Eu queria ser uma canção de rádio, a única
Que você sintonizou....
Eu queria, eu queria, eu queria,
eu queria... (eu acho que isso nunca acaba.)”



 

segunda-feira, 17 de novembro de 2008


Dizem que personagens são as representações de um coração que se (de)bate sozinho...

 


Ontem à noite uma canção me lembrou você. Tava tocando com uns amigos e ela apareceu e trouxe junto um filme com um monte de histórias e um monte de crônicas inviabilizadas pelo tempo... mas foi uma recordação boa e terna, como se algo nobre me assaltasse por um instante, me elevando por alguns segundos para que eu não me afogasse...

 

 


 

Não podemos ler o que nos toca?


Então, será que poderemos tocar o que lemos?


 

Sem festival, apenas atividades de cunho acadêmico. Essa é minha alcova, sem correntes ou grades, aqui pareço (e padeço) estar de bom grado.


Amigos que eu não conhecia estão em minha casa, algumas pessoas chamam isso de intercâmbio.

 


 

Dentre outras coisas, eu começo a olhar sério para as coisas e para o tempo. (Comprei até um relógio para ver o quanto eu estou atrasado.) Eu descobri onde alguns dos meus medos se escondem, não sei quais são, mas sei onde se escondem... Hoje decido que não tenho mais medo dos meus medos e desafio a verdade a ser mais sincera que essas palavras... Eu tenho um livro de páginas em branco e algumas palavras só existem na primeira pessoa do plural...


Saudade é, talvez seja, a primeira delas...



terça-feira, 21 de outubro de 2008



Os espíritos livres aprenderam a voar

Já não tocam mais o chão

Não estão mais

bem

Já deixaram de estar mal

Nem mesmo estão para os olhares

A esmo monocromáticos

São o futuro das vanguardas?

Ou apenas mais uma

tempestade

Intempestiva?

O verso já existia

Antes do papel e da caneta

O sentimento é anterior

Ao coração

A música que vinha antes do som

Do encontro que aconteceu antes dessas vidas

domingo, 12 de outubro de 2008



Tão frágil e belo

Quanto a vida

Incerto e vago

Como um sim em silêncio

Constrói teus dias

Na companhia de si mesmo

Verso sem estrofe

Dívidas sem credor

Dúvidas sem resposta

Vítimas sem algozes


 

A vida tem cheiro de outubro

Depois de um ano chego à primeira página

De um livro

Até a morte tem vida útil

Páginas em branco

À meia luz


 

Esperança é o que faz do amanhã

O nosso único presente

Que o essencial chegue à superfície

Levando em conta

O contexto dessas imagens

E a textura dessas palavras

A cor do amor

O cheiro do silêncio

Os sons do escuro


 

Às vezes as noites têm

O cheiro do amanhã

A beleza que reside em seu olhar

As minhas frases sem sentido

E com destino

 

 

As cores têm o cheiro de manhã

Os dias (ainda) têm o gosto

Dos seus lábios

A vida conjuga os verbos

E nós nos escrevemos no plural


 

Das cores de nossas músicas

Pintamos esses versos

Sou metade de você

Que vai tomando parte e partido de mim


 

(Eu tenho um violão

E você as canções)

Eu sou verso

Você melodia

Eu sou suas cores

Você,

Meus dias...



domingo, 24 de agosto de 2008

O dia despe a noite
de todas as estrelas
de todas as maneiras
o que há de mais oculto
se revela
quando dormem os últimos raios de sol...



A epifania
o sentido para o adjetivo feliz
um eclipse reverso


me empresta um beijo
deixa eu ser uma página do seu diário
fotografa um sonho
respira meu ar
me dá um capítulo do seu livro
nos seus braços, abrigo
me faz amante, amor, amigo...

Escreve rosas
envia pra mim
os desenhos dos versos
dos poemas sem fim

Sente o cheiro do primeiro
raio
despindo a noite
invadindo-a aos poucos
para conceber o dia


O acaso escreve o roteiro
nós dirigimos os personagens
Essa canção fotografa
o que não é dito por inteiro
o que se conta nas entrelinhas,
à margem,
do domínio de qualquer palavra

Vem ser verso em meus dias
me deixa
ser poesia
em tua vida





E se a segunda chance
tivesse todo mundo?
De quando em quando, de lance em lance,
ou por mais de um segundo
eu pudesse acertar
se ao invés de dormir
eu pudesse sonhar?
Se no lugar de partir
a gente pudesse ficar...


quarta-feira, 30 de julho de 2008

E se todo (o) mundo
Tivesse uma segunda chance?
Se de quando em quando
Ou por mais de um segundo
a gente só pudesse acertar?
Se à meia-noite tivesse sol e
Se ao invés de dormir
eu pudesse sonhar?




(Se) por todas as noites
de todos os dias




Se todo dente tivesse uma fada
(se toda dor não fosse um fardo)
Se as estrelas cadentes soubessem voar
Se toda viagem fosse rumo ao nada
Se todo verbo pudesse amar...
As canções que eu guardei
O que escondia dos seus olhos
Mas transparecia nos meus



Nas canções em que me resguardei
Do que temia
Os sentidos
Que se confundiam ao sentir



Que tudo não é o bastante
Quando tudo que eu fizer
Já não me levar à nada
(ou à você)




Quando eu me fizer presença
Na sua ausência
Encontrarei abrigo
Dos corações vazios
Serei o mais próximo
E até amigo



Eu tenho um cataclisma
Guardado no peito
Eu tenho aquele verso
Eu toquei aquela canção



Como se perder de si mesmo?
Encontrar-se ao meio
E pelo meio do caminho
Sem castelos de pedras
E sem moinhos de vento



Todo sentido atribuído ao acaso
O alheamento de si
Por uma empatia com a vida
Fecho os olhos para mim
E abro minha alma para o mundo



Minha vida repugna as luzes
Acessas por medo do (próprio) escuro
Avessas à verdade dos fatos
Atentas à sinceridade das palavras



O pó sob os livros
(você)
Em grãos de poeira em meus dias
As luzes da sua voz
O cheiro do seu abraço
Os sons que precedem o seu suor



O que eu falo tarde demais
Para quem foi muito cedo
A voz silencia
Agora é solo
O diálogo se passa em mim
(passa por mim)
Já não há mais um futuro
Em função de um passado...

quarta-feira, 23 de julho de 2008





Por aqui sem novidades
Já chegou a saudade
E já chega de saudades




O tempo voa
Os espaço se esvoa
A vida escoa em intervalos
de uma sinfonia de silêncios




quarta-feira, 9 de julho de 2008

Dízima periódica de palavras
da divisão de duas pessoas
Ascenda suas estrelas
e fuja da nossa escuridão


Eu começo a achar que seria normal
Personagens sem papel
Na sua vida
esse espaço fora do tempo
é o que tenho
e que indo à força(à forca, à fossa...)
é natural...




A meta-poesia do cotidiano
entrada e saída são apenas perspectivas
a porta é a mesma
uma versão para a velha história
que se conta todos os dias
com a máscara mais sincera...



A brecha na porta
do coração à fenda
da chave à parte
aos pedaços
partido em dois
de cara quebrada
sem cara metade



meu grande amor
(meu grão de amor)


O amor é o dom
em doar o que não se pode dar
do que nunca se tem


Cantarei (à) você
em cada canção
Cada verso
do meu canto
Em silêncio...



terça-feira, 8 de julho de 2008


Sobre o que é tudo...




Sonhos a partir de palavras
ou
palavras a partir de sonhos?


Por aqui se tem
sonhos a (re)partir
e palavras partindo de mim
(se) jogando em conversa fora...



Palavras a partir sonhos
à parte e alheios
Alhures de mim
e algures de que(m) anseio encontrar


Em parte,
eu sonho com as palavras que escrevem o começo
(e com os sonhos que se inscrevem desde o começo)


quarta-feira, 4 de junho de 2008







Que atire a primeira pedra quem nunca tiver errado!
(Aqui não somos tolerantes com erros.)









segunda-feira, 26 de maio de 2008
























































































































ps-Página em branco para versar sobre o silêncio.

quarta-feira, 14 de maio de 2008



O que é um dia

Em meio a tantos anos?

O que é uma palavra

Em meio a tantos versos?

Dentre tantos poemas

De tantos poetas

O que é uma gota d’água

Em meio a essa tempestade?



Meu vício em minha vida viciada

Minha mania em insistir

Ou não ter forças para dar cabo

Ao que me consome para sobreviver

Como se meus sonhos fossem matéria prima

Para a realidade que eu (já) não vivo



A letra inconstante

Para a poesia de um instante

É o meu surto

Permutando meus eus

E minhas realidades

São os excessos de quem

Não se vê com mais nada

E não acha o bastante ter a si mesmo



A chuva

Uma insignificante gota d’água

Que se nega desprezível

Quando não sozinha

Do céu à sargeta

Das nuvens à lama

Esses são dias de tempestade



O que é uma vida a menos

Se essa não soma mais?

O que é uma vida

Quando se é imortal?




domingo, 11 de maio de 2008



Todos os dias

me vejo presa

em palavras soltas

“Abra os olhos e volte”

Enquanto as coisas findam

muito mais que lindas

estas ficarão



escreverei apenas às palavras esquecidas

cantarei apenas os versos mudos

entre o pouco e o quase nada

fragmentos de vida

em histórias inteiras

tramas complexas

personagens vazios

com toda a profundidade

do que só tangencia a superfície



mulheres eu vivi

enquanto criava em mim, minha reinvenção

eu me via em um poema por dia

e me fazia refém de meu desejo por liberdade

até me descobrir vazia



a essência como uma

versão da aparência

a sinestesia na relação

música e poesia

vida em versos

o colorido no silêncio

com a polifonia do escuro



a ausência deixa espaço

para mais versos

os dias sempre acabam

em reticências...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Meta-auto-biografia




São só ranhuras

Rupturas no som

O espaço entre uma palavra

e a outra

não são as entrelinhas

a música vem no hiato

entre um verso e outro

a palavra cria espaço(s)

na música

para se fazer ouvida



O tom e a cor dessa música

Desses dias

no fortuito e inefável

caminho de volta para casa

Agora olho nos meus olhos

e vejo dos dias que quero

para toda a vida

o pedaço que falta

no vazio

de lacunas e espaços

A falta que me permite

ser inteiro

e ser pleno

domingo, 4 de maio de 2008

Do escambo ao câmbio



Quando o não é ilusão

sua leitura dos meus textos

minha leitura do seu (seu) contexto

eu digo não ao seu sim

na margem do não

à margem do sim




segunda-feira, 21 de abril de 2008



Eu sei
eu lembro
e nem esqueço
Faz tanto tempo
tinha tanta coisa
agora pouco espaço
mas há muitas lacunas
Um dia vai que eu aprendo
(e sinto que esse dia passou)
Hoje eu sei e até (me) acredito
e não ouso fugir e nem (me)escondo

já não sei mais fingir que não vejo

inefável, agora faço das palavras abrigo

quando o silêncio é o que sobra como opção






segunda-feira, 14 de abril de 2008




teria sentido maior

do que

se não tivesse sentido

ter?

tive esse sentimento

de que ia sem ter ido

sem ter o sentir que

não passa dos sentidos



mas sinto e muito

pelo que me transborda

algo mais, à mais e há mais

do que me alimenta e me consome

e que não carece de sentido



o maior segredo

em um livro aberto

com textos

prontos para ser(mos) escritos?

Esse mistério transparente

e ainda assim

se nega o não

e ainda há sim

pro invisível aos olhos



é o meu verso

na sua estrofe

São suas palavras

na minha boca

São seus sentidos

nos meus sentimentos

que se vertem em palavras

em (com)textos que rasgam

o silêncio



Sonhei que havia sonhado

que estava acordado

que você me queria

por um instante

que resvalava por toda a vida



domingo, 30 de março de 2008


A vida (me) amanhece

E se insiste em um arco íris

Sob um caleidoscópio

Com luzes e sem sombras

Hoje empresto minhas cores

Ao adjetivo feliz


Imagina, eu?

Já se pensou o tamanho desse passo?

Eu que passo por cima

Passo pra trás

Passo o passado e

Agora reinvento o(s) futuro(s)?


Eu sonho com as cores que invento

E tenho a cor que aos olhos

Traz a transparência que só a alma tem

Eu insisto em surpreender o meu destino

Deixando meus fardos fadados ao fracasso...


Não fique pela metade

Sou o último e o primeiro

metade pra mim é o dobro do inteiro!

Sou de exageros

e me alimento de meus excessos,

sou plural e vivo das hipérboles dos meus dias

Eu comi as vísceras dos meus medos

reinventei o meu passado e

crio neologismos para o meu futuro...

O meio termo é só a metade dos meus desejos mais fracos...


Felicidade de fabricação própria

(e ouso escrever à duas mãos)


sábado, 22 de março de 2008



Eu sei do silêncio

Quando o mundo é (em) segredo

Eu sei dos versos

Quando mudo nos vejo

Eu te ofereço o dobro

Quando você só conhecia a metade

Uma parte de mim

Te parte ao meio

Outra parte

faz de nós dois

Um só





Menos seria suficiente

Sinto por hoje

E às vezes não só por hoje

E às vezes, não só às vezes...


Sinto muito o que é sentir

A essência do quase

De se conseguir o hardware

E não ter o software

Ou o contrário,

não importa a diferença

Ou a indiferença

A máquina já estava parada.


Mas, sou movimento

Sou mais

(sôo mais)

Meu canto em silêncio

Denota indiferença ao olhar de relance

E exibe toda a conotação implícita

Aos olhos que insistem em retinas

O diálogo com as entrelinhas

são para os que ouvem estrelinhas


o sentido desses textos

são um espelho de quem lê

e quem me olha assim

não me lê assim

sou livro aberto

com páginas em branco


esquecer é digerir o tempo

ruminando a vida

e abrindo as portas para

o Criar

(a minha forma de dirigir o tempo)

Nos meus versos me faço imortal

(no instante em que sou lido)


O nosso agora

É posterior ao hoje...




quarta-feira, 19 de março de 2008



Não sou capaz de responder

Por mim mesmo como futuro

Talvez recrie o que me foi passado

Para trás

Como um sonho

Que não se sonha acordado


Talvez releve e me torne leve

Leve o bastante

Para que meu futuro

Não me condene

Ao passado


Eu, que outrora fora a gota d’água

À agora de fora

Uma gota d’água

No leito (de morte)

De um rio

Que só tem fim

Quando vira mar

Quando vir ao mar

(quando vir a amar)


O que encontrou fim

À quem se encontrou no Fim

A abertura ao incerto

A reinvenção do novo

A queda livre que me ensinou a voar

O livro em branco que me faz escrever

As coisas sem direção

Mas com todo sentido (e sentimento) do mundo

Visto em escala de cinza

Com poemas monocromáticos

Todas as palavras para traduzir

O preto e o branco...

Uma sombra

E um pensamento...




domingo, 9 de março de 2008



Não, não é.

Não, não há.


A fala recorrente

As palavras concorrentes

(E as vidas paralelas)

Nosso encontro só demanda o infinito

E uma vida só não cabe


Eu não quero (o) mais

Cem páginas em branco nesse livro

De textos sem títulos

versos sem rima

poemas sem poesia

olhares sem sorrisos


É a sua parte na história

É a parte que se segue

à parte da história



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Epígrafe do epílogo desses dias



Agora eu sabia o que era onipresença

Em cada milésimo de segundo

Em cada milímetro de espaço

(eu só sabia o que era falta

E o que me era a falta)

E daqui só se via ausência

Um novo mundo cheio de espaços (e)

Vazios

O vazio que era onipresente

E como isso era tudo,

Agora eu sabia o que era onisciência...



E nada mais poderia ser feito

Tudo já havia sido dito

Para algumas vezes até refeito

Eu poderia fazer qualquer coisa

Uma vez que não havia mais nada a fazer

Agora eu sabia o que era onipotência...



Eu já ia tão além de mim

Que já havia me tornado a mudança em si

Que me conduzia sempre a uma nova pessoa

(já havia superado tanto minhas super-ações)

Havia me superado tanto em me ser eu mesmo

E de tantas mudanças,

Eu já era nômade dos meus dias

(e às vezes quase retirante da minha vida)

As mudanças em silêncio

Que dividi comigo aquilo que partia

(e me partia)

Em dois

Desse parto

Fórceps

Para essa

Vida parte dois




“Certos dias têm cara de vida inteira...”

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Subterfúgio (Sub- refúgio)



O mesmo papel a

Um novo personagem

A mesma fala para outra pessoa

Um dia fora

Meus sonhos ao encontro

Do seu conto de fadas


Eu mudei meu nome

Eu mudei o (meu) mundo

Mudei meu endereço, mudei esses dias

Depois que minha Vida mudou de mim


Longe de mim a escravidão

Do desejo de ser feliz

Viver é a grande superação de ser eu mesmo


Eu passo à limpo

Cada uma de suas linhas tortas

(e me escrevo em minhas entrelinhas)


O medo de sofrer

Que você chama de

Desejo de ser feliz

O medo da Solidão

Que você chama de paixão

O medo de amar

Que você chama de liberdade


Eu abdico dessa saudade

Por algumas páginas em branco no meu livro

Eu vendo as brigas gratuitas

Que comprei outrora


São meus sonhos

De encontro ao

Seu conto de fadas

...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Neutro artesanato de vida (Ou Neutro Artesão nato de vida)



À procura de um novo vício,
de uma nova idéia
de um novo motivo
para me tirar o son(h)o

à espera de um milagre
de um sinal
Atrás de um sorriso
de um olhar

Cantando (a vida) em outro tom
e desafinando e desafiando
e definhando o sonho
Alheio
à busca da felicidade...




domingo, 17 de fevereiro de 2008

A entrada para a estrada mais estranha de minhas entranhas...

Quase se coloca tudo a perder

E por quase nada

Quase se morre por isso

(e quase se vive sem isso)

Não é mais crise de abstinência

Agora há só abstenção

De tão vazio que não sobra espaço

Para criar versos

Ou versões para mesma canção

Com outro ritmo

Em outra harmonia

Não é mais uma ponta solta

Há uma ponta que se solta...

Igual a tudo na vida

Pensando no arquiteto desses dias, dessa vida (Parte Dois) encontraria um Almodóbar brincando de Woody Allen. A idéia de ser ator do seu próprio filme não é de agora, mas a inércia(Ah, a inércia...) é talvez mais forte que a força que deu origem ao movimento.

Pós-carnaval, fim de férias, fim de grana, fim de livro, começo de leitura... entre o fundo do poço e o fundíssimo do poço há alguns centímetros, sonhos, recordações e frustrações. Longe de mim o exercício de outrora em que toda dor tinha espaço para se testar forças. (Quem foge vive para lutar de novo.) Se “o que não me mata, me fortalece”, o que me fortalece me mata aos poucos. Segue o texto desconexo como metonímia ou amostragem ou alusão de algo que poderia ser sintetizado como sincero. (Quisera eu não ter desaprendido a conjugação do verbo mentir).

Devagar e sempre para esse credor sádico que finaliza minhas páginas, mas teu texto não cessa. Flui pelas brechas entre um pensamento e uma lembrança de um futuro que já se havia cantado no passado. Algumas canções de outros tempos agora em outro tom. No dia em que serão “retocadas” e caminharão de mãos dadas com as palavras quero estar na metade do caminho e não mais no meio do caminho, porque no meio do caminho tinha uma pedra e nem de caminhar sobre as pedras eu gosto.

Vamos ter lugar pros versos quando desocuparem esse espaço. Inquilino que vai embora e deixa a mobília sem saber como são feitas as fogueiras de São João. (ops, mas eu sou devoto é de São Francisco Buarque).

Estou reescrevendo meu passado, transcrevendo a prosa para versos, andando devagar porque já (me) perdi (com) a pressa e o meu verso não tem pressa, é expresso e só expressa...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

(A)pagamento à vista


Sem o que dizer

À mim e a eu mesmo

De onde há tanta dor?

(De ontem há tanta dor...)

A ferida que não fecha

e a hemorragia que me estanca

A força disso tudo

(e à força isso tudo)

O acaso planejado

Na página em branco

De um livro sem final



Sem final...

Eu acredito nas pessoas

Mas não confio em ninguém

Os versos plagiados

De uma poesia que faltou (em)

Algumas estrofes pra se viver

Meu canto em silêncio

meu encanto sem luz



Sem luz...

Cerrando as grades dessa liberdade

À procura de um novo vício

emulando uma nova paixão

Sintetizando um sorriso diário

Do melhor disfarce em ser eu mesmo

A estar alheio à minha sombra

Meus passos não pertencem aos meus pés

A asa quebrada

O coração (re)partido e

os olhos furados...