segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Resetar os protocolos

Como seria se a vida quando desse erro bastasse resetar os protocolos? No entanto, isso demandaria de mim a coragem suicidada e a covardia romântica de acreditar em reencarnação. Por um lado até paradoxal ou por outro apenas um desdobramento lógico. O suicida dar cabo à própria vida por acreditar que encontraria um fim para seu sofrimento. Se ele acredita que a existência transcende a vida bastaria apenas reiniciar o sistema cada vez que ele travasse.

A morte como solução para a vida nunca me pareceu tão simples! No entanto, ainda me é complicado acreditar que depois do fim é que estaria o começo. Não sei a vida é chegada a outros sinais de pontuação além do ponto final. Colocar vírgulas ou reticências no texto seria como conceber histórias sem fim e acho que sobrariam páginas e faltaria espaço para novas narrativas nesse mundo. Ainda me pergunto se a dúvida sobre vida após a morte seria da mesma ordem das dúvidas fetais se existiria vida após o parto. Isso sempre descontruía o argumento de que ninguém voltou do outro lado para contar ou provar como é que é (ou como não é).

Não que eu não acredite que não exista. Eu fico com o benefício da dúvida e abdico da dívida para conquistar a vida eterna. No entanto, se for acreditar em algo: eu acreditaria que não existe. Eu acreditaria no nada e no vazio. Quaisquer hipóteses diferentes seriam eufemismos para quem prefere desejar o nada a não ter nada para desejar. Sem dar muita densidade a isso. Eu desconfio da superioridade desses grandes valores em que a mediocridade parece se camuflar. Não há desesperança ou pesar por isso; não há dor ou medo. Se eu estiver certo, não gostaria de viver o breve tempo que temos imaginando, loteando e negociando a “pós-vida” que não teremos.

Se eu tivesse a fé para acreditar nisso seria também louco o suficiente para não hesitar diante do suicídio. “Deus é pai, não é padrastro” tudo sabe, tudo entende, tudo perdoa... ainda que me fosse proibido abdicar do meu único bem ( e no ensejo hipotético suicida, meu maior mal) eu estaria perdoado previamente pelo amor infinito e incondicional e teria a possibilidade de começar de novo ou ficar no “stand by” enquanto arrumam a casa.

Se por um dia ou algum dia eu acreditar em algo além da miséria da nossa realidade será o último dia de minha vida. Nesse meu surto de fé teria a humildade de reconhecer as limitações do sistema operacional vida e seu hardware precário “Homo sapiens sapiens” e resetaria os protocolos.







segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um tiro no escuro
nessa história eu sou apenas figurante
Não tenho rotas de fuga
nessa história sem roteiro
Não me é dado tempo
para sentir medo
Não tenho a liberdade
de me sentir preso


Um tiro no escuro
e por uma fração de tempo
a luz assusta a escuridão
e faz o silêncio gritar
A bala embala o último desejo
de que a morte seja diferente
da vida que se leva e se deixa levar


Um tiro no escuro
e me é suicidada a possibilidade
de ver no impossível uma chance
de que o inverso desses dias
seja  mais (que) um verso
perdido e esquecido
na gaveta das ideias
e dos sonhos




quarta-feira, 7 de setembro de 2011





Como nascem os anjos?


Do amor
de quem sonha?
Do sonho
de quem ama?


Da saudade de quem não foi
da lembrança da vida que poderia ser
Daquele que sempre se perde
naquela que nunca se encontra


Como nascem os anjos?


Da liberdade em um caminho só de ida
ou da paixão que germina um amor?
De um verso que escreve uma vida
ou do inverso em que se inscreve o autor?


Das entrelinhas e seu silêncio escondido
ou do impossível que faria sentido?

De um beijo que encontra um sorriso
ou da palavra dita no altar?
Do espelho que encontra Narciso
ou da palavra interdita no autor?

Do sonho
de quem (te) ama?
Ou do amor
de quem (te) sonha?


Como nascem os anjos?






quinta-feira, 1 de setembro de 2011





Encontrar com você por acaso...



Até quando se quer
e até quando não se quer
ou quando não se quer querer
e quando não se quer não querer


Em nosso caso,
nosso  encontro
é mais que um caso
Do acaso que se curva diante
do nosso desejo por escrever
uma história sem fim na terceira do plural
em que a gente se perde à cada encontro
e se acha no descontrole
por saber que no fim
só os desejos fracos
podem ser controlados
e enfim é que eu posso


me encontrar no acaso por você