Como seria se a vida quando desse erro bastasse resetar os protocolos? No entanto, isso demandaria de mim a coragem suicidada e a covardia romântica de acreditar em reencarnação. Por um lado até paradoxal ou por outro apenas um desdobramento lógico. O suicida dar cabo à própria vida por acreditar que encontraria um fim para seu sofrimento. Se ele acredita que a existência transcende a vida bastaria apenas reiniciar o sistema cada vez que ele travasse.
A morte como solução para a vida nunca me pareceu tão simples! No entanto, ainda me é complicado acreditar que depois do fim é que estaria o começo. Não sei a vida é chegada a outros sinais de pontuação além do ponto final. Colocar vírgulas ou reticências no texto seria como conceber histórias sem fim e acho que sobrariam páginas e faltaria espaço para novas narrativas nesse mundo. Ainda me pergunto se a dúvida sobre vida após a morte seria da mesma ordem das dúvidas fetais se existiria vida após o parto. Isso sempre descontruía o argumento de que ninguém voltou do outro lado para contar ou provar como é que é (ou como não é).
Não que eu não acredite que não exista. Eu fico com o benefício da dúvida e abdico da dívida para conquistar a vida eterna. No entanto, se for acreditar em algo: eu acreditaria que não existe. Eu acreditaria no nada e no vazio. Quaisquer hipóteses diferentes seriam eufemismos para quem prefere desejar o nada a não ter nada para desejar. Sem dar muita densidade a isso. Eu desconfio da superioridade desses grandes valores em que a mediocridade parece se camuflar. Não há desesperança ou pesar por isso; não há dor ou medo. Se eu estiver certo, não gostaria de viver o breve tempo que temos imaginando, loteando e negociando a “pós-vida” que não teremos.
Se eu tivesse a fé para acreditar nisso seria também louco o suficiente para não hesitar diante do suicídio. “Deus é pai, não é padrastro” tudo sabe, tudo entende, tudo perdoa... ainda que me fosse proibido abdicar do meu único bem ( e no ensejo hipotético suicida, meu maior mal) eu estaria perdoado previamente pelo amor infinito e incondicional e teria a possibilidade de começar de novo ou ficar no “stand by” enquanto arrumam a casa.
Se por um dia ou algum dia eu acreditar em algo além da miséria da nossa realidade será o último dia de minha vida. Nesse meu surto de fé teria a humildade de reconhecer as limitações do sistema operacional vida e seu hardware precário “Homo sapiens sapiens” e resetaria os protocolos.