segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mais do mesmo




Nem só de palavras vive em mim
a (minha) poesia.
Às vezes é preciso números, notas,
cores, sons, ouvidos, bocas, peles,
“sols” e a sós se (d)escreve
o que não conseguiria por si só
evitar de ser mais do mesmo
ou uma inefável coleção de versões (e versos)
de si mesmo...
(ou nós mesmos?)




domingo, 20 de setembro de 2009

Notas mentais sobre a efemeridade II



Versar a prosa desses dias é um impulso, quase exterior, por não caber em mim e vir a transbordar nessas folhas em branco que remotamente ambicionam ser páginas. O pulso disso tudo se alimenta na morte. Ao morrer, ao ver padecer cada credor meu e de meus pares, mesmo que veja se esvair um amigo à cada passo. Alguns animais não (re)produzem em cativeiro, algumas idéias não (re)produzem em mentes fechadas e alguns sonhos só florescem em peito aberto.


Não é escalar a montanha mais alta para ver o quão alto subimos, é olhar para frente e perguntar o que há depois do ponto mais alto. O que vem depois do ponto mais alto que os meus pés podem me levar? Agora, preciso de asas, há muito já cabia a mim voar.


Não, a loucura, não. A alcunha de louco não representa de forma verossímil o estado ímpar de ser, deveras, louco. Não se vincula aqui a idéia de exaltação de um “modus operandi” em si, até mesmo por que o “modus operandi” que faço apologia ao trazê-lo para o exercício de minha vida, já se afirma por si só. A única afirmação contida aqui é a do ato de afirmar. Mesmo que eu não saiba, que ainda assim afirme esse meu não saber. Quando disser não, que seja uma afirmação veemente da negativa daquilo que objeto. Não me excluo da possibilidade de ter a dúvida como uma experiência válida, mas ainda assim, anseio minhas dúvidas devidamente afirmadas na minha incerteza.


Afirmar por não ser capaz de creditar ao acaso a responsabilidade por aquilo que desejo em mim. O meu bem estar cultivo eu. Não hesito em considerar equivocado delegar a terceiros a competência para construir ou viabilizar aquilo que me traria o sentimento de bem estar e satisfação. Implicar-me enfaticamente nisso é subsidiar a existência do adjetivo feliz no cotidiano, é ser mecena da arte de cultivar a felicidade em meus dias.



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Notas mentais sobre a efemeridade I



Das considerações sobre o que me é efêmero e extemporâneo chego às dúvidas que para muitos, poderiam vir a ser ponto de partida. Mas agora, talvez mais aqui do que mesmo agora, encontro e acordo com essas mesmas dúvidas como um ponto de chegada. Não preciso estar perdido para andar em círculos, se é que assim ando. E mesmo que assim houvesse andado, os caminhos e coisas que vi até chegar ao ponto de onde parti já me valeram a viagem. Sair do nada, rumo ao nada pode ser a melhor das viagens. Jamais serei frustrado por não esperar nada do amanhã. Quem sabe, ora, ousaria dizer que o passado até me é útil para saber onde já não devo mais pisar e ter comigo a ciência de que o caminho que me trouxe aqui, já se foi antes mesmo de ser lembrado. Um passado apagado da memória deixa de existir antes mesmo de existir. Não quero gastar minhas palavras com as crônicas e contos dos verbos que conjuguei. Quero falar das palavras e versos por inventar, das idéias por construir, dos sonhos a desenhar. Eu quero o prenúncio do que ainda não veio, os caminhos que vou (per)fazer e não as pegadas que deixei.


Uma vez que, ao perceber a vida e suas extensões concretas como uma sucessão de estátuas de ar, há muito já estou alheio aos prazos de validade e das eternidades. Até a imortalidade das palavras já se curva diante da efemeridade da leitura. Já não me resta espaço no peito para a dor, eu tenho em mim algo maior que o meu próprio sentir. A dor é um exercício diário tal como as paixões. Se for alimentar algo, que não seja um cadavérico passado, mas sim um neonato futuro.



domingo, 13 de setembro de 2009



A garota da contra-capa
sobr(e) escrita no outro lado da história
ganhando os jogos da vida
lançando(-se) sobre a outra face do moeda


Pondo a vida como hipoteca de si
tendo (n)os sonhos
como a única garantia de si mesma
Apostando na própria força
tomada de empréstimo da fé na esperança
Pagando pra ver a outra face
para ter certeza que o contrário de nada
(ainda) é nada


Um passo em falso na beira do abismo
ou o primeiro passo para um salto?
A queda do precipício ou
o princípio de um vôo à liberdade?


Na velocidade da luz ou
na velocidade de Deus
Os mesmos passos ao mesmo ponto
Sair daqui
desaguar em outro mar
outro lugar para chamar de lar
outra vida para tomar como sua
outro peito para guardar seu pulso
uma nova história para o final feliz


Sem hora marcada para chegar
sem vida útil para sair
válido até total consumo
vivo até que se prove o contrário


Um campo de batalha
do lado esquerdo do peito


(...)


Ontem lembrei de muito
do que me valeria esquecer
Vi nos rostos, agora alheios,
o passado em que me escondera
e do qual, agora, queria me esconder
Não voltar já seria
o primeiro passo à frente
Mas dessa vez,
olhar para trás
Não me fizera tropeçar
Só me confirmara como
passagem só ida,
como um caminho sem volta...