sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Lista de desejos 2



 

     Ele vinha com o mesmo sorriso de outrora, escondia de si uma dor que todos sabiam de cor, mas levava, desta vez com leveza, os dias de agora. Já não tinha mais nada a perder, logo, já não tinha dívidas. Sem credo, credores, dúvidas por demais e afirmações por menos. Era uma fotografia de si apagando as sombras e os passos em falso do passado. Apontava para o futuro, mas residia no presente. Esquecia o próprio nome e queria ser lembrado por sua presença, uma estátua de ar de quem tentava beirar o incapturável.

     Poucas demandas, apenas exigia que as coisas fossem o que fossem. Nem mais do que poderiam ser e nem menos do que já eram, sem a pretensão de causar o encanto ou o receio do desprezo, apenas ser em primeiro plano e pensar como conseqüência das ações e não o contrário. Sentir o mundo ao invés de observá-lo e até mesmo vivê-lo abdicando de guardá-lo em caixinhas que muitos rotularam como fotografia e vídeo.

     Um ano que acabava, um ciclo que se fecha em um calendário que não (de)marca seu tempo. Os pontos finais que escrevia hoje refletiam as páginas em branco que foram imprescindíveis para que continuasse seu livro. Catalogou erros e só insistiu no que estaria para além do bem e do mal, mas dessa vez sabia que o não e o sim eram a mesma resposta.

     Ainda tinha uma grande lista de desejos, mas todos demandavam cúmplices e uma vez sozinho, estaria no máximo na esfera do inviável. Ninguém os via, desconfiavam, mas ainda assim não os percebiam. Não eram desejos secretos, estavam lá, mas de tão transparentes, ninguém (n)os via...






 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Rupturas no silêncio...