quinta-feira, 18 de abril de 2019





O grande texto
na ânsia que se passava
por eminência
tão bem descrito
que parecia bem escrito
Era uma forma de o poeta
dar forma a si mesmo
Uma ponta de sentimento
no vazio de sentido
Perder-se ali
era o caminho mais fácil
Sair com vida
um castigo
Eram os dias que se insiste
(em) esquecer




Escrever era uma forma
de dar abrigo a si mesmo
Era uma forma de se fazer
menos sozinho
Eram mensagens em garrafas
em uma ilha deserta




Um passo em direção a si mesmo
um pequeno passo para um Homem
um grande passo para a sua humanidade
A história contada aos pedaços
Poucos atores
e tantos personagens
às vezes as vítimas
faziam papel de seus algozes




O que deveria se ver
já fora revisto
antes de apagar
A única certeza
residia na ausência
(de certezas)
Eram assim os caminhos para
se chegar a si mesmo
Por vezes, demorava
todo o tempo do mundo
às vezes uma vida só
não bastava




E na ausência de luz
ele inventou a cegueira





segunda-feira, 8 de abril de 2019





Uma canção pontua o verso
interroga, exclama e pausa
o silêncio da folha em branco
talvez transborde a alma
são lacunas, são esquinas
entre o vazio e o nada
 Sentimentos presos, desejos represados
num ponto de interseção ou num ponto de fuga
Como se a profundidade dos poetas
se escondesse na superfície do texto
que ao ser visto de forma linear
seria só mais um
mais do mesmo
ou mesmo nada
Mas ao olhar mais intenso e interno
se veria não só o que foi impresso
mas também expresso






sexta-feira, 5 de abril de 2019










O amor está para o acorde menor
assim como a paixão está para
o acorde diminuto





segunda-feira, 1 de abril de 2019



Os cafés nas manhãs
às vezes se harmonizam
com uma saudade latente
que invade o dia
e acompanha o sol
para ir embora
Por algumas horas
passa por mim
o sentimento hipotético
do que poderíamos ser
ou ter sido
um pensamento sobre uma possibilidade
que até parece um afeto retroativo



Segue o dia
e consegue a noite
impor ao sol que se ponha no seu lugar
A mesma vista da janela
com olhos cansados de espiar
e esperar as cartas não enviadas
que seguem sem resposta
e já não a alcanço
se esvai na memória
como o último rastro de luz
que cede e se permite ir
quando chega a noite


Agora o corpo tem algumas horas
para tentar esquecer
o que a alma não permite ir embora
as paixões etílicas, efêmeras e equivocadas
desejos enviados para o endereço errado
ligações por acaso, diálogos por engano
e por um triz
quase não lembro das tentativas de esquecer
de que não pensar sobre isso
já é lembrar de você