quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Dos dias que desaguam em chuva…






     A chuva como lágrimas de quem se inunda na lama do lixo do descaso é a mesma água que lava a alma de quem vive a seca? Eu como tradutor do óbvio, não me repreendo em decretar-me feriado quando chove. Sou uma pessoa de poucas alegrias e de onde venho a chuva ainda é um evento. Quando chove para tudo, como se chover não fosse impessoal, mas sim um momento de comunhão de um bem estar travestido de preguiça com a contemplação dos pingos de água que já não fingem ser dor ou mágoa. Talvez até lágrimas de uma coletividade que transborda alegria só do prenúncio de chuva percebido quando se avista o “tempo bonito pra chover”. Sou do Ceará, por esses tempos quase Saara, mas nesta seara de nascenças e transcendências, quiçá quis minha vida que minhas raízes estivessem no ar. Talvez por assim ser um modo de esta muda de si mesmo se fixar em qualquer lugar e não se prender em nenhum lar. De qualquer forma, carrego em mim o afeto por esses dias em que a ausência solar faz um feriado na Terra do Sol.