sábado, 28 de setembro de 2013



À olho nu
se desnuda a razão
o filtro que esconde o desejo infiltrado
em parecer para ser alguém
que não se é para ter de alguma forma
o que não se pode ter 
ou deter consigo
ou reter em si





Ao olho nu que pouco enxerga
e muito entrega:
da beleza de quem vê
à beleza de quem vem
Os limites dos olhos balizam o olhar
que no escuro cega
mas abre a janela para sentir e tocar




Há um olho nu
e uma nudez no olhar
olho no olho, nu
Fecha-se os olhos
Abre-se a alma




domingo, 15 de setembro de 2013





A dúvida como companhia, como inseparável dele e quão inerente a ele e sua miséria em carregar e ter que afirmar o adjetivo humano. A certeza é uma pegadinha da consciência ou um transgênico do cruzamento da prepotência e da ignorância. Um clichê socrático, banalizado numa rede social, na estampa de uma camiseta, numa mesa de bar ou numa manifestação de rua com uma ideologia dadaísta filha de um desejo niilista. Nada brilhante,  tampouco genial ou mesmo um grande insight. Apenas a constatação do óbvio, do evidente, do escondido no que é explícito: A vida como algo cru e indigesto, a existência que se constata como por essência miserável. Somos por essência vazios e talvez daí nossa única dádiva! Como um vaso que tem seu valor retido naquilo que não tem. Se não fosse o vazio o vaso era apenas barro.(Como me disse um Chinês em uma tatuagem com letrinhas orientais no corpo de alguém que eu esqueci o nome). E desse não ter, não ser, não poder é que se cria um texto sem muito nexo, coesão que chuta o estômago do sentido, que existe talvez só para livrar alguém de uma ideia que o impregna. Como se a clareza para se fazer inteligível fosse o norte para o parto fórceps de um desassossego de uma inquietação como um acorde diminuto ecoando na sua insônia implorando para ser escrito. Como se o som e os sonhos pudessem traduzir as palavras que nos limitam pelo imperativo da clareza e do inteligível, como se para organizar fosse preciso mutilar a ideia, o sentimento ou que se desejava expressar. Daí tudo isso fica mais claro nos denominadores comuns do ser humano: a dor, a miséria e a morte. Esta última como um alarme nos acordando para a lembrança de que corremos contra a finitude e contra os imperativos do tempo. Às vezes até acho que é nessa esquina entre o nosso vazio e nossa finitude que são concebidos os poemas, as melodias e as paixões... paliativos para a solidão e para as dúvidas, como se a Verdade fosse só uma expressão do medo de pensar que o vazio daquele monte de barro seja preenchido apenas por uma inexorável solidão, por dúvidas e dívidas com um passado que nos presenteia com a saudade. E aí você percebe que todo o texto  sem sentido até aqui e o todo de tudo aqui que inquietava antes e agora se resume em uma palavra: saudade.