quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O passado é uma massinha de modelar. Às vezes para lembrá-lo ou para lembramo-nos é preciso uma criança a brincar com ele e com toda a inocência que a ele é inerente. Daí se lembra que ele existe e que não se tem mais tempo ou idade para brincar com massinha de modelar ou se misturou todas as massinhas de todas as cores e se formou um bolo cinza e indiferenciado, ao passo que nós nos tornamos indiferentes.


Dizia um iluminado ( da eksistencia) que o passado é plástico e maleável pra quem se sabe fazer flexível. Não se demanda terapeutas e poetas ou poetas-terapeutas para conceber isso. Uma vez que a memória é balizada por afetos e sentidos não se pode guardá-la de uma forma estanque e impessoal. A forma como se vê muda junto com o observador. Ao se olhar de um ponto mais alto agora os grandes problemas de outrora parecem “formiguinhas” para quem hoje aprendeu a voar.



A roupa que não nos serve mais e que se doa ou se dá de esmola, pois há quem se alimente do que é passado ou do que fomos: passado. Há histórias narradas só com verbos no pretérito, seja ele imperfeito, perfeito ou mais que perfeito, ainda que se faça de conta que não se enxerga os personagens do presente ...






terça-feira, 18 de outubro de 2011

'Message in a bottle...'



E entre o verso e a melodia havia o silêncio... Ainda que se transbordasse em vontade de escrever e desejo de cantar havia algo maior em um acordo tácito da sorte,do acaso, do desejo e do destino: o silêncio. Naquilo que ela não diz agora, espera para dizer depois, espera amanhã chegar pra ver se diz, mas não diz hoje e espera amanhã pra ver chegar.


Como saber se não foi dito, desdito ou maldito? O silêncio é pai da ambiguidade e aqui nessas horas não há mais o benefício da dúvida. Às vezes a tecnologia vai de encontro ao encontro: não há telefone, telegrama, sms, sos, bilhete, carta, mensagem, Messenger... que me valha o encontro com seu  sorriso. Esses “meios” de comunicação eram pra servir ao fim que seria o “encontro” presencial. No entanto, tais meios foram hipertrofiados e viraram fins em si mesmos. O mais simples segue a lógica da distância e da representação do desejo de estar perto; a voz no ouvido parece ter se tornado obsoleta; o “cara à cara, beijo à beijo” , face à face é pela realidade virtualizada e emulada por um “face” impessoal que se coloca como denominador comum às pessoas. Mundo virtual: um grande “ki-suco” da vida! Adicione a cor e o sabor artificial que você quiser e dilua bastante, bastante, bastante mesmo...
Há sentimentos que não cabem em 140 caracteres, há coisas que para serem faladas não podem ser ditas e pra essas coisas parece nunca haver espaço e tempo. 



[E entre a minha palavra e a tua havia o (nosso) silêncio...]







segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Não teria verso que rompesse o silêncio daquele coração ou surto de coragem que arrancasse algum texto daquela gaveta. Era o segredo mais oculto, a carta nunca remetida, a história sem fim em um texto nunca lido nem por quem o escreveu. Apenas escrito sem mesmo ser revisado para que nunca fosse lido. Um rascunho em palavras que era representativo de si. Ela guardava seus textos como quem guardava a si mesma. Os textos mais belos permaneceriam desconhecidos tal como ela permaneceria. Escondia suas palavras do mundo e assim se escondia também. Em meios aos sorrisos automáticos, as noites produzidas em série, as pessoas pré-programadas, os relacionamentos protocolados... haveria alguém que pudesse vê-la além disso?     Haveria texto a ser escrito depois das reticências?



Por algum instante alguém ousou invadir e arquitetou roubar uma das chaves de tal gaveta. Equívoco primário e surpresa ao descobrir que algumas coisas se guardam
a sete chaves. Pretensão demais em acreditar que algo além da superficialidade havia sido dito. Falar cansa, talvez por isso ela cante e escreva o que ela teria a dizer. “Teria a dizer”, como possibilidade abandonada e não “ter a dizer” como vontade a ser concretizada. Só quem desconfia da força do silêncio saberia o que ela tem dizer.



E das sete chaves ela fez os muros e as grades, e do silêncio ela fez um hábito. Um exercício diário de quem se fortalece com a própria solidão. Havia um riso cada vez que pensava nas pessoas que se alentam das solidões alheias. Sozinha ela tinha um exército ao seu lado e um campo de batalha no lado esquerdo do peito. 











As coisas são simples,
a gente (e há gente) que às vezes complica.










segunda-feira, 3 de outubro de 2011








Curso de oratória é para os fracos,
os bons exercitam o silêncio.