sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Apologia de Belchior





Assim como os segredos precisam do silêncio
assim como a saudade precisa da ausência
O homem sobe a montanha 
(ou foge para as colinas) 
à procura de si
de se perder em si


Esperemos cicatrizar o que (e quanto) suas palavras
nos marcaram
O que escolhemos para lembrar?
Que olhos são esses que atentam para a maldição do gênio
e cegam para a poesia de sua genialidade?
O que se esconde na fuga desse homem que foge de seu passado?


Este homem não é (só) um artista
é um artesão talhando em nosso peito
palavras  à navalha
Não nos interessa as dívidas  e as dúvidas deixadas
sob o mistério de sua vida
É o que foi escrito e não quem escreve


Holofotes e flashes só ofuscam 
a luz de sua poesia
Tinha uma câmera no meio do caminho
a olhar para o seu passado 
e a perder o foco (do) que está no seu futuro



Não havia fuga antes da caçada global
Apenas um homem em algum interior latino-americano
que não nos canta quando convém
Não venha perguntar por onde ele andou
paralelas levam ao infinito
onde de braços abertos há um rapaz em uma ilha que diz
“que nada é eterno”
que ainda há espaço, tempo, corpo e
que tudo isso possa ser só mais um modo de dizer não


Antes do fim saberemos
que quem se mandou um dia
não tinha um bilhete só de ida
“Deixemos de coisa,
cuidemos da vida...”
Belchior não voltará
apenas pelo nosso bel prazer





quinta-feira, 3 de janeiro de 2013





Partindo do zero
rumo ao nada
Qualquer coisa já é o bastante
humildade demais é disfarce de arrogante
um prato fundo e vazio
uma tabula rasa
uma carta branca
um cheque em branco ( e sem fundos)
uma queda num buraco sem fundo
é voo livre
é folha em branco


O passado  num brechó
onde o obsoleto pra uns é colocado pra outros
como novidade
a nova idade da semana que vem 
que me deixa mais velho
e com os sonhos mais novos
Tem coisa que passa e nunca é passado
tem verso que se esquece antes de escrever
tem pessoa que se lembra antes de pensar
tem sonho que morre antes de nascer
tem ideia que envelhece antes amadurecer
tem vida que amanhece antes de anoitecer



Aquele  dia que só começa quando você acorda
até se finge uma soneca de cinco eternos minutos
mas o tempo é um imperativo
e não há acordos para acordar
a vida lá fora não espera seu dia amanhecer...
a vida não te espera
a morte espera
amor te espera?