domingo, 24 de novembro de 2013





Poemas morrem à cada estrofe não lida
como amores à primeira vista
morrem à cada olhar não correspondido



Eu me escondo no seu medo de me achar
A palavra certa (repetida)
na hora errada
até ser seu clichê
(até ser só clichê)
No seu faz de conta de sonhar acordado
com o meu pesadelo contido
contado em sons perdidos
buscando dormir como forma de esquecer
ou não lembrar por um instante
da agonia dos versos que procuram melodia
ou da busca de um eu que deseja(va) ser nós



Pouco pra mim, basta pra você
segue em silêncio o quase grito
de ironia na piada pronta
no trocadilho calculado
na solidão recheada por
sonhos e demandas alheias



Apenas um capítulo desconexo
páginas a serem limadas na próxima edição
em que se recontará a história
com finais felizes
a memória do vazio ocupará esse espaço
Mais um verso em mais um livro



A memória te trai com a saudade
sabotando seu plano de esquecer
uma frase anônima a romper o silêncio
numa página a ser deixada em branco






sábado, 9 de novembro de 2013

All my loving

 





Algumas músicas são como pessoas:
 ficam com a gente como se fossem nossas e às vezes até começam a parecer conosco...

https://soundcloud.com/vidapartedois/all-my-loving






segunda-feira, 28 de outubro de 2013




Você que leva a sério as minhas piadas
mas não acredita quando eu falo sério
Você que leva pro lado pessoal
o que eu falo sobre o abstrato
E faz de conta que não é com você
quando eu chamo pelo seu nome
Você que não me liga, mas sempre atende
quando eu digo que não foi nada
e você sabe quase tudo



Quando a saudade se perde
na iminência do não
mesmo que eu tenha perdido cada
em que não te arrisquei um sim
quando as possibilidades caminham para o silêncio
E o benefício da dúvida
nutre uma certeza pelo não
Queria ter sido outro em meu passado
queria de volta o meu presente
queria pensar que o futuro
ainda se faria diferente
queria acreditar que a história
seria a mesma com a gente
queria um verso que me narrasse
em uma estória que eu te encontrasse





sábado, 28 de setembro de 2013



À olho nu
se desnuda a razão
o filtro que esconde o desejo infiltrado
em parecer para ser alguém
que não se é para ter de alguma forma
o que não se pode ter 
ou deter consigo
ou reter em si





Ao olho nu que pouco enxerga
e muito entrega:
da beleza de quem vê
à beleza de quem vem
Os limites dos olhos balizam o olhar
que no escuro cega
mas abre a janela para sentir e tocar




Há um olho nu
e uma nudez no olhar
olho no olho, nu
Fecha-se os olhos
Abre-se a alma




domingo, 15 de setembro de 2013





A dúvida como companhia, como inseparável dele e quão inerente a ele e sua miséria em carregar e ter que afirmar o adjetivo humano. A certeza é uma pegadinha da consciência ou um transgênico do cruzamento da prepotência e da ignorância. Um clichê socrático, banalizado numa rede social, na estampa de uma camiseta, numa mesa de bar ou numa manifestação de rua com uma ideologia dadaísta filha de um desejo niilista. Nada brilhante,  tampouco genial ou mesmo um grande insight. Apenas a constatação do óbvio, do evidente, do escondido no que é explícito: A vida como algo cru e indigesto, a existência que se constata como por essência miserável. Somos por essência vazios e talvez daí nossa única dádiva! Como um vaso que tem seu valor retido naquilo que não tem. Se não fosse o vazio o vaso era apenas barro.(Como me disse um Chinês em uma tatuagem com letrinhas orientais no corpo de alguém que eu esqueci o nome). E desse não ter, não ser, não poder é que se cria um texto sem muito nexo, coesão que chuta o estômago do sentido, que existe talvez só para livrar alguém de uma ideia que o impregna. Como se a clareza para se fazer inteligível fosse o norte para o parto fórceps de um desassossego de uma inquietação como um acorde diminuto ecoando na sua insônia implorando para ser escrito. Como se o som e os sonhos pudessem traduzir as palavras que nos limitam pelo imperativo da clareza e do inteligível, como se para organizar fosse preciso mutilar a ideia, o sentimento ou que se desejava expressar. Daí tudo isso fica mais claro nos denominadores comuns do ser humano: a dor, a miséria e a morte. Esta última como um alarme nos acordando para a lembrança de que corremos contra a finitude e contra os imperativos do tempo. Às vezes até acho que é nessa esquina entre o nosso vazio e nossa finitude que são concebidos os poemas, as melodias e as paixões... paliativos para a solidão e para as dúvidas, como se a Verdade fosse só uma expressão do medo de pensar que o vazio daquele monte de barro seja preenchido apenas por uma inexorável solidão, por dúvidas e dívidas com um passado que nos presenteia com a saudade. E aí você percebe que todo o texto  sem sentido até aqui e o todo de tudo aqui que inquietava antes e agora se resume em uma palavra: saudade.





domingo, 23 de junho de 2013













Dá pra abaixar
20 centavos
na saudade?












sábado, 1 de junho de 2013











                                                                O silêncio tem várias versões...








domingo, 14 de abril de 2013






Revelia
relevaria
e elevaria-me
Revê-la ia
e revelaria


Revelar-se ou ia
rebelar-se e à
revelia
revolveria
a rebeldia


De revelar-se
revelar o sim
revelar a si
De revolver-se
e se envolver
Se
...




terça-feira, 2 de abril de 2013
















...

Ligue os pontos e forme um texto

...










domingo, 3 de março de 2013









Minha arte não paga meu salário
mas meu salário paga minha arte


Minha alma vendida é mecena
dessa poesia
As letras quentes desse coração
são alimentadas
 por uma mente fria e calculista


Não cabe indulto, 
por não haver culpa
(por não haver inocente arrependido)
Nada seria segredo
a quem se desnuda
nessas palavras e melodias que pagam pedágio
para sair da gaveta e ganhar o mundo


Sob a pretensão da Arte
não cabe a mim ser escuso
não cabem em mim suas escusas








quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013






Medo,
fraqueza dos covardes ou
prudência dos vencedores?



O ponto forte de quem vence
é saber os pontos fracos
seus
(da forma mais ambígua possível)
Como se vira
na arte da guerra
imitando a vida
ou a arte do amor
Portando, portanto
uma semelhança por tanto
já anunciada em hinos e poemas
filhos da mesma pena
Destarte (ou desta arte)
semelhanças espelham diferenças
A pena capital às vezes abraça o indulto
ainda que alguns se prendam por vontade




Medo
de (se) perder,
dá força aos que persistem
enfraquece os que desistem











terça-feira, 19 de fevereiro de 2013





Onde já se viu?
Onde já serviu? 
Onde jaz civil?
Onde jaz ser vil?



Se prestar ao papel
de se emprestar ao papel
Onde já se viu?
a folha em branco
a folhear seu pranto


Ir ou ia?
Troca de lado
ou descarrilho
Ironia
Trocadalho
do carilho
A fim de que?
Afim de quem?


Uma engenharia dadaísta
um planejamento do acaso
uma bala perdida do tiro certeiro
uma certeza emprenhada de dúvida
uma conta empenhada da dívida
No faz de conta 
a história tem sim
tem até final feliz
Do máximo que se pode fazer
ao mínimo que se pode ter
numa conta de fardos
em que se sonha
um conto de fadas





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013








Estar em silêncio
não significa que 
não se está em saudade...






(Aos meus amigos meus amores, minha família)











sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Apologia de Belchior





Assim como os segredos precisam do silêncio
assim como a saudade precisa da ausência
O homem sobe a montanha 
(ou foge para as colinas) 
à procura de si
de se perder em si


Esperemos cicatrizar o que (e quanto) suas palavras
nos marcaram
O que escolhemos para lembrar?
Que olhos são esses que atentam para a maldição do gênio
e cegam para a poesia de sua genialidade?
O que se esconde na fuga desse homem que foge de seu passado?


Este homem não é (só) um artista
é um artesão talhando em nosso peito
palavras  à navalha
Não nos interessa as dívidas  e as dúvidas deixadas
sob o mistério de sua vida
É o que foi escrito e não quem escreve


Holofotes e flashes só ofuscam 
a luz de sua poesia
Tinha uma câmera no meio do caminho
a olhar para o seu passado 
e a perder o foco (do) que está no seu futuro



Não havia fuga antes da caçada global
Apenas um homem em algum interior latino-americano
que não nos canta quando convém
Não venha perguntar por onde ele andou
paralelas levam ao infinito
onde de braços abertos há um rapaz em uma ilha que diz
“que nada é eterno”
que ainda há espaço, tempo, corpo e
que tudo isso possa ser só mais um modo de dizer não


Antes do fim saberemos
que quem se mandou um dia
não tinha um bilhete só de ida
“Deixemos de coisa,
cuidemos da vida...”
Belchior não voltará
apenas pelo nosso bel prazer





quinta-feira, 3 de janeiro de 2013





Partindo do zero
rumo ao nada
Qualquer coisa já é o bastante
humildade demais é disfarce de arrogante
um prato fundo e vazio
uma tabula rasa
uma carta branca
um cheque em branco ( e sem fundos)
uma queda num buraco sem fundo
é voo livre
é folha em branco


O passado  num brechó
onde o obsoleto pra uns é colocado pra outros
como novidade
a nova idade da semana que vem 
que me deixa mais velho
e com os sonhos mais novos
Tem coisa que passa e nunca é passado
tem verso que se esquece antes de escrever
tem pessoa que se lembra antes de pensar
tem sonho que morre antes de nascer
tem ideia que envelhece antes amadurecer
tem vida que amanhece antes de anoitecer



Aquele  dia que só começa quando você acorda
até se finge uma soneca de cinco eternos minutos
mas o tempo é um imperativo
e não há acordos para acordar
a vida lá fora não espera seu dia amanhecer...
a vida não te espera
a morte espera
amor te espera?