quinta-feira, 24 de novembro de 2011







Ela constrói castelos
com as 'pedras do meio caminho'
e com a areia do fundo do poço...








quarta-feira, 23 de novembro de 2011







Álcool não cicatriza feridas.








segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sabotagem




Sabotar:Danificar propositadamente,  instalações inimigas para impedir, retardar ou interromper seu funcionamento. Boicotar.


Figurado:Dificultar ou prejudicar uma atividade por meio de resistência.



Sabotador: 1: Sabota a dor.




Ps(post scriptum)- "Sabotarte"

Ps2- Teria como escrever textos só com o 'post scriptum'...















terça-feira, 8 de novembro de 2011

     Meus óculos quebrados são como uma cicatriz de batalha. Um dia estendi a mão a uma pessoa caída e ela me respondeu com um tapa endereçado ao meu rosto. Por esquiva, por reflexo ou por acaso ela só encontra meus óculos. Eles voam e levam junto meu intuito em ajudá-la. Sem meus óculos era eu quem precisava de ajuda e a outra face a ser oferecida seria minha ausência.  

  
     No meio da multidão, no meio da confusão, no meio da história, o cavalheiro havia caído do cavalo e eu estava sozinho a procurar e defender meus óculos de um pé cego que esmagasse a minha possibilidade de visão. Tomando a necessidade como mãe da criação (já ouvi dizer que o MacGyver era o pai) começo a tatear o chão, movendo as mãos em movimentos circulares na expectativa de cobrir uma área maior. (Não, eu não pensei em ficar olhando o chão até encontrá-los.) Antes que eu também começasse a precisar de alguém me estendendo a mão, minhas mãos encontram meus óculos. Volto a enxergar e consigo ver que parte da lente havia sido quebrada, parte da lente ficara naquele chão, como parte do meu gesto de compaixão (pois o gesto com paixão) havia sido quebrado por aquele tapa.



     A menina ao chão derrubada por algum terceiro alheio aos limites e às limitações do outro e indiferente à sua dor viu na mão que eu estendia a possibilidade de mais um golpe ou o espaço para revidar a agressão sofrida. Ela havia vingado a queda, ela levava mais alguém ao chão e estava quite com a história. Ela seja por reatividade, seja por vingança, seja por materialismo-dialético-monocromático-egocêntrico, seja por ser um oprimido reagindo contra o opressor (Opressor: leia-se tudo que estiver de pé, tudo que não for oprimido), seja por medo de mais um golpe, viu na mão estendida por mim a mão que lhe havia agredido ou mesmo um simples “desconta lá”.Quem pagou a conta? Meus óculos que resignadamente sempre foram gentis e compreensivos com as limitações e fragilidades alheias. Inocentes surpreendidos e punidos por permitir que meus olhos ao olhar por alguém não vissem a possibilidade de não sermos vistos com bons olhos.











sexta-feira, 4 de novembro de 2011

(...)



        Dos dias a se lembrar com coisas a se esquecer, eu vou falando como dizia Belchior: “Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei, jovem que desce do norte...”




A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria
e a certeza de que tenho coisas novas,
coisas novas pra dizer
A minha história é ... talvez,
é talvez igual a tua,
jovem que desceu do norte
que no sul viveu na rua

e que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
e que ficou apaixonado e violento como, como você
Eu sou como você.
Eu sou como você.
Eu sou como você
que me ouve agora.
..

Belchior




... e por aí vai e daí vem. Eu não me esqueço do dia em que dormindo no aconchego do meu lar e fui expulso, sem aviso, sem cerimônia, de repente, de uma vez, como se estivesse fugindo ainda que eu quisesse ficar. Lembro-me da humilhação e da exposição degradante, das luzes ofuscantes, dos risos, da exposição da minha nudez e não bastasse a agressão física me intimando ao choro.

     Havia livros sobre opressão e ditadura, mas ninguém percebia a tirania que se fazia naquele momento. Que crime eu havia cometido para sofrer aquela pena? Fui tirado da minha zona de conforto, meu mundo havia desabado, a vida que eu levava havia sido usurpada e eu não tive o espaço nem mesmo de escolher. Tirado à força, expulso por um lado e puxado para fora. Diálogo? “-Calma, eu posso explicar!” O que é isso? Parecia que eles não falavam a minha língua.

     Pela primeira vez eu sentia o que era fome e antes que pudesse esquecer da dor que eu sentia ainda havia o frio. Eu sinceramente achava que a morte era mais amena que aquilo. Quão intolerante e impiedoso era esse mundo novo! Admirável mundo novo! Até então a hospitalidade rimava com hostilidade. Malditos bárbaros! Eu não pertenço a essa cultura!

     De tanto ouvir que “nada é tão ruim que não possa piorar” comecei a acreditar nisso, mas não desacreditava que mesmo estando pior ainda era possível mudar. No meio daquela “via crucis” mal sabia eu que encontraria a mulher da minha vida. Ainda não sabia que o amor havia se escondido no meio daquela revolução ou daquele golpe na existência (como alguns devem preferir chamar). No meio da minha fome havia aquela mulher a me dar colo e abrigo, a velar meu sono e a conjugar o verbo amar e a me ensinar a conjugá-lo. Pela primeira vez alguém me amava não pelo que eu tinha, até mesmo pelo fato de eu não ter nada além dessa história de amor.

     E passaram se alguns anos até que eu percebesse que nada é tão ruim que não possa piorar e ainda assim não possa mudar. O que era visto como crise naquele passado era apenas uma mudança. Traumática? A psicanálise que o diga! O meu desespero e as angústias daquela hora eram alentadas pela minha inocência em não perceber que aquele fim do mundo era na verdade apenas o começo da história.