segunda-feira, 16 de julho de 2018






O tempo como termômetro para a história
os grandes amores, as grandes ideias
se tornam figurantes na memória


As escolhas dos caminhos
os vazios cultivados
a força do que segue sozinho
com a saudade lado à lado


Um espaço, um tempo
um hiato, um segundo
um lapso, um momento
e nada mais será lembrado
mais um passo, um relapso,
mais um salto, mais um tiro no escuro
e tudo mais será perdoado


O que se esquece
quem se permite esquecer
aquilo que foi dito esquecido
do que lembro que esqueci
Insiste um verso,
uma melodia
um som de um sorriso
uma forma de dizer sim
um pedaço que resiste
mergulhado em silêncio
subtraindo da memória
seu dom de se perder
Invade como um sonho
que dá sentido ao sono
ou como uma velha história
que dá vida aos dias







quinta-feira, 7 de junho de 2018





Então, o que nos sobra
quando se chega até aqui?
De caminhar para lugar nenhum
só para não estar no mesmo lugar
e não ser amanhã
o mesmo de ontem
ou uma cópia de hoje



Um novo sonho para um velho coração
ideias novas para projetos antigos
a criação concebendo o criador
numa vida e obra de quem sobrevive
mais um dia
mais uma vez


Um movimento para desejos inertes
a gota d`água no deserto
falta um pouco
mais uma volta
e a saudade já não alcança a memória
o que sobrou de você por aqui
que já não possa ir?
Inventamos o impossível
como um álibi para a distância
traduzida em ausências
Há nas palavras um esforço
para que se ultrapasse essa barreira
e que se crie uma chance
de que alguém do futuro
possa falar à alguém do passado
Ainda que todos já saibam
o que viria  ser dito 







domingo, 6 de maio de 2018

Do que finca e finda...





O que segue de quem fica
o perdido no meio do caminho
quando se encontra o seu lugar
a lacuna entre o que eu queria ser
e aquilo que sou
o abismo do futuro de ontem
ao que foi passado agora





Aquele texto, naquele email, daquele verso
a mesma coisa (inter)dita de tantas formas
e maldita várias vezes
Talvez o amor seja mesmo uma sinfonia
de silêncios e vazios
num consenso para instrumentos diferentes
tocarem a mesma nota
Consonantes de uma forma ímpar
convergindo para o mesmo ponto de fuga
em mais uma esquina entre a distância
e o que fica de quem me segue






sexta-feira, 2 de março de 2018







Da arte de se tornar o que se é
de se permitir não ser mais o homem do passado
de fazer valer(-se) mais (em) cada silêncio
e prescindir mais das palavras


Deixar vir à tona e não mais ir à toa

De quem eu era
àquele que eu quero ser
as lacunas, os hiatos, as distâncias
os vazios que tentei preencher
hoje memórias vazias
vagas, desbotadas de um passado
de alguém
a se esquecer


Desatando os nós
amarrando as pontas soltas
Muito tarde para um café
e muito cedo para um vinho
O sol se pôs para você
mas me acompanha até o limite do meu desejo
alguns quilômetros, alguns anos
algumas palavras
Distâncias já são maiores que a saudade


O sol se pondo
como um ponto final
A noite se impondo
como uma próxima página
A noite que vence o medo
de se estar sozinho
à noite vem sem medo
de ficar comigo
Deixando as dúvidas por dívidas
com essa história
de uma noite
ou de uma vida




sábado, 20 de janeiro de 2018




Alguns poemas seguiram
alheios a este caderno
e além de qualquer registro
ou tentativa de cercá-los
e fazê-los cair no papel
ou na tela anônima de algum leitor


Será que se perde a poesia em mim
ou eu que me perco e a deixo ter fim?
Será que peco por não saber se o pecado
é algo certo ou errado?
Ou se no caminho em que me encontro hoje
não é mais do mesmo em que me perdi ontem?
Será que os afetos dos mais distantes
são os que mais me faltam
no cotidiano com tantas vozes
que nada me falam
(e às vezes me calam)



Teria eu pelo avesso
criado o espaço
para que longe
fosse só uma palavra
Vazia de significado
para que nela coubessem tantos sentidos

A distância que nos une
no silêncio rompido por um verso
um pensamento perdido
de um sentimento incerto
uma ideia vaga
uma saudade incerta e dispersa
menos do que foi
e mais do que poderia ter sido


Alguns anos passaram
por essas páginas
fragmentos de histórias
que eu vivi ou inventei
ou inventei de viver
personagens meus
 disfarçados de alheios
com sentimentos impossíveis
de acontecer em mim
na ausência dessas folhas em branco