Mentir é narrar a história da maneira que nos convém. É usar eufemismos ao relatar os erros, metonímias para que as ações feitas na hora certa pelas pessoas erradas possam servir de indulto. Mentir é hiperbolizar os acertos e usar metáforas quando se precisa de calma e há demanda de se explicar. Mentir é ter na retórica e eloqüência a chance de se ter razão mesmo quando equivocado. A mentira é a imagem percebida (pela lente débil dos sentidos) do objeto verdade. A mentira é a diplomacia para o narcisismo das idiossincrasias. A mentira é a condição da existência da verdade, é a humanização da relação de mutualismo entre o homem e seus pares. A mentira é o sorriso que impede o conflito, é a confissão que absolve o culpado e delega a pena a um terceiro alheio e anônimo. Mentira são as entrelinhas dos versos, os hiatos entre as palavras, os parênteses, as lacunas, os desdobramentos, reticências e as aspas. A mentira é o “felizes para sempre” depois do fim da história. Mentira é a catacrese de nossos dias. Mentira é o amor secreto traduzido em três palavras.