domingo, 20 de dezembro de 2009




Você se faz
reinventando
o sentido da beleza
agora, ímpar e plural


Entre seus versos
entre seis cordas
sempre a mesma tecla
e nunca a mesma nota

Pedaço de chuva em
gota de mim
Caindo e retornando
antes de tocar(-me) o chão


Você contradiz o meu silêncio
e se desvia para o meu olhar
o que já não se vê
mas se faz presente
como uma fala
inscrita em palavras


Me doar pra você
viver os sonhos
e sonhar com a realidade
Inverter o seu avesso
conjugar seus verbos
(em meus dias)
eu, você
em mim




terça-feira, 15 de dezembro de 2009




Se eu soubesse antes
o que ouso saber agora
se a dúvida não foi constante
Por que a certeza me vem nessa hora?
Se no seu olhar
eu encontrei um destino para o meu
Entre uma fala e o silêncio
de um dançarino sem par
Ainda teria no tempo um aliado(?)
ou um credor a me atormentar
Eu veria mais que isso
ainda que distante
Havia alguma parte em mim
guardando a esperança
para falar alguma coisa sobre
fazer algo a respeito
deixar ser o que for
pedir uma chance
ou deixar pra lá
Esperar a hora e a vez
criar uma oportunidade


Aos meus olhos nunca estive certo
e quanto aos seus
nunca acreditaram que eu estive
tão perto
Guardava o receio e vendia coragem
à mulher que trazia em meu peito
inundava meus sonhos
e transbordava-me a alma
ao encontro
do texto que (d)escreveria
nossa história


O belo se escondera
em nossos olhos
Agora, ela via em mim
um reflexo do que eu
havia visto ao encontrá-la



O agora era às vezes e
Eu já não era tão frase solta
eu esperava pelos seus versos
Ela cativara a dúvida em mim
florescia o momento
em que ela só diria sim





domingo, 13 de dezembro de 2009


Algumas histórias começam pelo fim, quando se dá conta que os seus personagens já não têm o que perder. Fica a música sem letra, os poemas sem rima e as pessoas entre uma solidão e outra. Entre um intervalo de silêncio e uma penumbra no fim do túnel. Haveria espaço? Haveria chance para o intolerável?


Alguns textos jamais seriam lidos, mas ainda assim serão escritos. Por mais que ninguém procure sentido nessas entrelinhas, sempre haverá um sub-texto, um contexto ou um pretexto ali escondido, ou mesmo, de tão exposto, ofuscante e não visível aos olhares superficiais.


À primeira vista se constroem os equívocos e se insiste na máxima irracional da permanência e hegemonia da primeira impressão. Nem amor à primeira, à vista ou a prazo em suaves prestações diluídas em doses homeopáticas distribuídas na eternidade da rotina de nossos cotidianos.


Eu aspirava a tanta coisa e sempre me cabia o plano B como inevitável opção viável. Mesmo que a razão me contemplasse, eu estaria fadado ao fardo de Cassandra ou mesmo um “spoiler” de uma história sem final. O abrigo estaria em umas poucas linhas mal escritas no intervalo entre a vigília e o sono. A vacância dos meus sonhos rendia-me algumas linhas enquanto eu aguardava ser arrebatado por meu sono. No entanto, cada linha era um passo que me afastava da possibilidade de adormecer e assim eu ia (me) escrevendo, como quem usa a bebida para esquecer que bebe ou como quem (se) usa das palavras para esquecer que está sozinho.





terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Por baixo do silicone também bate um coração...




Seria uma máxima da mulher moderna ou um contra-senso da cultura do contra fazendo frente à cultura dominante? O que dizer dos conceitos pré-formados relacionados ao segmento do universo feminino que faz o uso de alguns mililitros que estão na esfera do possível diante do desejo masculino por alguns centímetros a mais na sua vaidade fálica? Talvez para muitos homens isso soe indiferente. Aos que estão na média ou acima dela não é preciso criar axiomas de alento à esperança dos fracassados argumentando que o tamanho não é o aspecto mais significativo.


Pensar no quanto é desprezível o implante da suplente prótese de silicone é desconsiderar ou mesmo negligenciar a preponderância de uma indústria cultural que privilegia o volume e não necessariamente a densidade do conteúdo. As aparências emanam e preponderam nos desdobramentos de uma moralização dessa estética que fabrica seus ícones em um mundo surreal que é colocado como ideal de mundo a nossa realidade.


Acreditar que é plausível tal realidade em nossas vidas é como deitar voluntariamente na cama de Procustro, emblemático personagem da mitológico grego que morava em um castelo em Eleusis. Convidava os viajantes a pousarem no castelo, onde tinha uma cama de ferro. Se o convidado era muito grande para a cama, ele amputava o excesso; se a vitima era muito pequena, ele a esticava até as pontas da cama. Ninguém nunca cabia exatamente na cama de Procustro, porque ela era ajustável segundo a conveniência da vontade do personagem referido. Acordar com a violência contra si mesmo, excetuando-se o masoquismo em que esse é o intuito primordial da ação, qual a finalidade desse dispêndio? Servir aos valores de outrem em detrimento de si? Atribuir a uma terceira do plural o direito de decidir o que é melhor para si mesmo?


Abdicar do domínio de nós mesmos por um referencial externo que é indiferente a nossa dor deveria soar como algo impraticável. No entanto, muitos de nós não estão em uma posição favorável para perceber esses outros nuances de cores no horizonte. Pensar que ir de encontro à moralização dessa estética seria a solução é da mesma ordem da força que nos oprime. A mera substituição dos ditadores não é sinônimo de uma emancipação. Seria como andar em círculos, atitude predominantemente presente em quem se encontra perdido.


Eu poderia findar meu incômodo e minha indignação aqui. Poderia começar com as palavras panfletárias visando a uma emancipação ou parafrasear da forma mais clichê a máxima messiânica: “Proletariados do peso, (ou mesmo, de peso),uni-vos!” A melhor maneira de se dissolver na multidão é esquecer da força das pequenas revoluções e creditar sempre a terceiros a possibilidade de mudanças em uma eterna espera por uma grande mudança em nossas vidas. A revolução pode ocorrer do instante em que acordamos até o instante em que dormimos entre os espaços que percorremos nesse intervalo. Parece pequeno? Mas para ser grandioso é preciso apenas que aconteça em nós mesmos.


A mudança de dentro pra fora, a gota d’água, o insight, “-eureka!” ou menos que isso. Talvez a grande idéia seja perceber que aquilo que servirá para todo mundo não é a mesma coisa para todos nós. Será mesmo que todos os quadros recebem a mesma moldura? Evitar que nossa atitude desemboque em ações reprodutoras da mesma lógica de coisas que criticamos já pode ser um primeiro passo, e não é preciso muitos passos depois que se aprende a voar.