domingo, 13 de setembro de 2015





Alguns poemas seguiram
alheios a este caderno
e além de qualquer registro
ou tentativa de cercá-los
e fazê-los cair no papel
ou na tela anônima de algum leitor




Alguns anos passaram
por essas páginas
fragmentos de histórias
que eu vivi ou inventei
ou inventei de viver
personagens meus
 disfarçados de alheios
com sentimentos impossíveis
de acontecer em mim
na ausência dessas folhas em branco







domingo, 23 de agosto de 2015






Perde-se um pouco de mim
à cada linha
como se eu me esgotasse enfim
 as histórias interditas
por fim, o mundo real me sufocaria
ou já não havia palavra a ser escrita
que ainda não fora dita


Entre os espaços e o vazio
havia um abismo
um livro inteiro de narrativas de entrelinhas
Outrora uma lacuna a ser preenchida
a uma ausência que me consumiria



Um fragmento de otimismo
me trazia a ideia
de que o silêncio é matéria-prima da palavra
e ao final dessa pausa
se faria um ponto e vírgula
Afinal, insistir em um ponto final
por três vezes é continuar


às reticências, reminiscências,
 e florescências
como um neologismo
para a vida











domingo, 7 de junho de 2015



O silêncio
é a carta de alforria
da palavra








O filho que ainda não tive
por minha força ainda ser
menor que o meu desejo





O tempo traz para o imperativo
quaisquer escolhas ou ideias que
um dia teria
O artigo sufoca o verso
o dever supera o devir
da palavra
que ganha de empréstimo o silêncio





Sou a mulher que me restou ser
o sonho de outrora me traiu
enquanto eu sonhava que era verdade






quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Dos dias que desaguam em chuva…






     A chuva como lágrimas de quem se inunda na lama do lixo do descaso é a mesma água que lava a alma de quem vive a seca? Eu como tradutor do óbvio, não me repreendo em decretar-me feriado quando chove. Sou uma pessoa de poucas alegrias e de onde venho a chuva ainda é um evento. Quando chove para tudo, como se chover não fosse impessoal, mas sim um momento de comunhão de um bem estar travestido de preguiça com a contemplação dos pingos de água que já não fingem ser dor ou mágoa. Talvez até lágrimas de uma coletividade que transborda alegria só do prenúncio de chuva percebido quando se avista o “tempo bonito pra chover”. Sou do Ceará, por esses tempos quase Saara, mas nesta seara de nascenças e transcendências, quiçá quis minha vida que minhas raízes estivessem no ar. Talvez por assim ser um modo de esta muda de si mesmo se fixar em qualquer lugar e não se prender em nenhum lar. De qualquer forma, carrego em mim o afeto por esses dias em que a ausência solar faz um feriado na Terra do Sol.