segunda-feira, 18 de março de 2019




Eu era apenas um fingidor
um dissimulado profissional
um camaleão afetivo
um emulador de sonhos
um sintetizador de emoções
a poesia era apenas um álibi


Para os personagens em que me invetava
havia histórias e versos
em que eu me arriscava contar
Encontrar(-me) (n)essas narrativas
era um caminho sem volta
Perder-se nas possibilidades
do que havia sido e do que poderia ser
Era um mero exercício da caneta
que precisava dançar sobre a folha de papel
Ainda que numa melodia silenciosa
como os desejos mais secretos
ou amores não despertos


Não havia espaço para a falta
a vida por si só era abundante
a poesia vinha do que transbordava
e não de lacunas ou rompantes



segunda-feira, 11 de março de 2019

Das visitas matinais a Leonard Cohen




Peregrino de minhas memórias
embarcando em saudades
de forma clandestina
tentando chamar o vazio de poesia


O que valeria mais que o silêncio
que ainda não fora dito?
Quem merecia a atenção
dos palcos, dos holofotes e dos clicks
que oferecesse algo além
de narcisismo e histeria?


A forma indo além do conteúdo
quando o vazio transveste
e mimetiza vários sentimentos
e simula vários sentidos


Nenhum segredo
apenas mistério


Amores que não valem uma lágrima
histórias que não valem uma página


Paixões que florescem natimortas
novas flores à cada primavera
mas sempre as mesmas raízes
e os mesmos frutos que apodrecem
antes de amadurecer
sempre a mesma história
de uma forma diferente



quinta-feira, 7 de março de 2019




Então suas cores valem mais que sua imagem?
Suas palavras valem mais que o seu texto?
Seu texto vale mais que suas ideias?



Uma nova cor para uma velha pessoa
onde se esconde o medo
dessa personagem ou dessa atriz?
Para onde corre quando se vê
na esquina do quase tudo e do quase nada?
Por onde escorre o sonho e o desejo
de ser mais e não apenas ter mais?


Quais verdades te venderam
e quais mentiras você comprou?
A mulher de outros tempos nunca floresceu
ou o sonho foi abortado antes que o plano falhasse?


As sementes da mudança prescreveram
a promessa que nunca se realizou
a aposta perdida
 o futuro brilhante ofuscado
por um passado obscuro
Nessa versão de si mesma
não haveria rendeção, reviravolta
reforma, revolução, resistência
ou recomeços
Era um animal preso
fugindo de si mesmo
caçando o próprio rabo
correndo numa jaula em círculos
e essa seria a sua única revolução