segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dê uma chance às entrelinhas...






      Dê uma chance às entrelinhas...

     Dê à escrita um espaço maior em seus dias. Deixe a menina falar, não precisa ouvir em seguida, mas deixe que ela te fale. Guarde numa gaveta se for o caso de ler depois, mas não permita que ela só tenha voz por acaso. Dê duas vezes mais espaço à escrita em sua vida.

     Não marque data, não agende, não faça (que seja) diário, se permita serem constantes, fluidos, regidos pelo tempo do desejo, como se fosse orgânico. Por mais que se tenha hora para comer não se tem hora para sentir fome. (Por mais que se adie o momento do encontro não se contém quando chega a saudade).

     Doe uma chance às entrelinhas...

     Não tenha borracha, não há erros, não há crime que as palavras cometam que justifique a pena de serem apagadas. Pena capital para quaisquer palavras imperfeitas é muita intolerância com a inocência da escrita. Aprisione as palavras com o uniforme listrado tachado, mas não dê cabo a quem só deseja existir.

     Do amor do lápis com a folha em branco se dá a concepção do imortal. Não aborte algo que pode vir a ser maior que você. A paixão entre dois corações só demanda existir, não há imperativos pelos adjetivos: certo, perfeito, belo, permitido... O que importa é se permitir, aqui, tudo que se deseja e tudo que se pode ter é a existência. O mundo prescinde o egoísmo das pessoas que se negam até a si mesmas. Do impossível ao possível são só algumas letrinhas a se esquecer.

     Dê sua chance às entrelinhas...















Um comentário:

  1. Perdi as contas dos assassinatos que cometi, das tantas folhas rasgadas, das tantas letras apagadas. Mas ao contrário do que pensas, meu caro, algumas letrinhas juntas na mesma frase jamais podem vir para esse mundo. Não vejo imortalidade nos rabiscos escondidos na minha gaveta. Eles descansam em paz, com direito a epitáfio: Aqui jaz aqueles que vieram ao mundo apenas para saírem de dentro de mim, mas que não têm força suficiente para sobreviver nesse mundo.

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Rupturas no silêncio...