domingo, 17 de janeiro de 2010




Mentir é narrar a história da maneira que nos convém. É usar eufemismos ao relatar os erros, metonímias para que as ações feitas na hora certa pelas pessoas erradas possam servir de indulto. Mentir é hiperbolizar os acertos e usar metáforas quando se precisa de calma e há demanda de se explicar. Mentir é ter na retórica e eloqüência a chance de se ter razão mesmo quando equivocado. A mentira é a imagem percebida (pela lente débil dos sentidos) do objeto verdade. A mentira é a diplomacia para o narcisismo das idiossincrasias. A mentira é a condição da existência da verdade, é a humanização da relação de mutualismo entre o homem e seus pares. A mentira é o sorriso que impede o conflito, é a confissão que absolve o culpado e delega a pena a um terceiro alheio e anônimo. Mentira são as entrelinhas dos versos, os hiatos entre as palavras, os parênteses, as lacunas, os desdobramentos, reticências e as aspas. A mentira é o “felizes para sempre” depois do fim da história. Mentira é a catacrese de nossos dias. Mentira é o amor secreto traduzido em três palavras.









2 comentários:

  1. "A mentira é o sorriso que impede o conflito"

    e eu que nao me considerava tão mentirosa assim...

    gostei do texto, de verdade.

    =*

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  2. Sempre achei que os silêncios são uma espécie de cortina que esconde uma mentira. Eles são uma ferramenta útil aos mentirosos que não vêem mal algum em roubar palavras que deveriam ser ditas. Meio paradoxal, talvez, mas creio que o silêncio fale por si. E, dependendo da situação, fala tanto, tanto.

    Mas, às vezes, é necessário silenciar.
    Assim como é necessário mentir.

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Rupturas no silêncio...