terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Por baixo do silicone também bate um coração...




Seria uma máxima da mulher moderna ou um contra-senso da cultura do contra fazendo frente à cultura dominante? O que dizer dos conceitos pré-formados relacionados ao segmento do universo feminino que faz o uso de alguns mililitros que estão na esfera do possível diante do desejo masculino por alguns centímetros a mais na sua vaidade fálica? Talvez para muitos homens isso soe indiferente. Aos que estão na média ou acima dela não é preciso criar axiomas de alento à esperança dos fracassados argumentando que o tamanho não é o aspecto mais significativo.


Pensar no quanto é desprezível o implante da suplente prótese de silicone é desconsiderar ou mesmo negligenciar a preponderância de uma indústria cultural que privilegia o volume e não necessariamente a densidade do conteúdo. As aparências emanam e preponderam nos desdobramentos de uma moralização dessa estética que fabrica seus ícones em um mundo surreal que é colocado como ideal de mundo a nossa realidade.


Acreditar que é plausível tal realidade em nossas vidas é como deitar voluntariamente na cama de Procustro, emblemático personagem da mitológico grego que morava em um castelo em Eleusis. Convidava os viajantes a pousarem no castelo, onde tinha uma cama de ferro. Se o convidado era muito grande para a cama, ele amputava o excesso; se a vitima era muito pequena, ele a esticava até as pontas da cama. Ninguém nunca cabia exatamente na cama de Procustro, porque ela era ajustável segundo a conveniência da vontade do personagem referido. Acordar com a violência contra si mesmo, excetuando-se o masoquismo em que esse é o intuito primordial da ação, qual a finalidade desse dispêndio? Servir aos valores de outrem em detrimento de si? Atribuir a uma terceira do plural o direito de decidir o que é melhor para si mesmo?


Abdicar do domínio de nós mesmos por um referencial externo que é indiferente a nossa dor deveria soar como algo impraticável. No entanto, muitos de nós não estão em uma posição favorável para perceber esses outros nuances de cores no horizonte. Pensar que ir de encontro à moralização dessa estética seria a solução é da mesma ordem da força que nos oprime. A mera substituição dos ditadores não é sinônimo de uma emancipação. Seria como andar em círculos, atitude predominantemente presente em quem se encontra perdido.


Eu poderia findar meu incômodo e minha indignação aqui. Poderia começar com as palavras panfletárias visando a uma emancipação ou parafrasear da forma mais clichê a máxima messiânica: “Proletariados do peso, (ou mesmo, de peso),uni-vos!” A melhor maneira de se dissolver na multidão é esquecer da força das pequenas revoluções e creditar sempre a terceiros a possibilidade de mudanças em uma eterna espera por uma grande mudança em nossas vidas. A revolução pode ocorrer do instante em que acordamos até o instante em que dormimos entre os espaços que percorremos nesse intervalo. Parece pequeno? Mas para ser grandioso é preciso apenas que aconteça em nós mesmos.


A mudança de dentro pra fora, a gota d’água, o insight, “-eureka!” ou menos que isso. Talvez a grande idéia seja perceber que aquilo que servirá para todo mundo não é a mesma coisa para todos nós. Será mesmo que todos os quadros recebem a mesma moldura? Evitar que nossa atitude desemboque em ações reprodutoras da mesma lógica de coisas que criticamos já pode ser um primeiro passo, e não é preciso muitos passos depois que se aprende a voar.





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Rupturas no silêncio...