quarta-feira, 14 de maio de 2008
O que é um dia
Em meio a tantos anos?
O que é uma palavra
Em meio a tantos versos?
Dentre tantos poemas
De tantos poetas
O que é uma gota d’água
Em meio a essa tempestade?
Meu vício em minha vida viciada
Minha mania em insistir
Ou não ter forças para dar cabo
Ao que me consome para sobreviver
Como se meus sonhos fossem matéria prima
Para a realidade que eu (já) não vivo
A letra inconstante
Para a poesia de um instante
É o meu surto
Permutando meus eus
E minhas realidades
São os excessos de quem
Não se vê com mais nada
E não acha o bastante ter a si mesmo
A chuva
Uma insignificante gota d’água
Que se nega desprezível
Quando não sozinha
Do céu à sargeta
Das nuvens à lama
Esses são dias de tempestade
O que é uma vida a menos
Se essa não soma mais?
O que é uma vida
Quando se é imortal?
domingo, 11 de maio de 2008
Todos os dias
me vejo presa
em palavras soltas
“Abra os olhos e volte”
Enquanto as coisas findam
muito mais que lindas
estas ficarão
escreverei apenas às palavras esquecidas
cantarei apenas os versos mudos
entre o pouco e o quase nada
fragmentos de vida
em histórias inteiras
tramas complexas
personagens vazios
com toda a profundidade
do que só tangencia a superfície
mulheres eu vivi
enquanto criava em mim, minha reinvenção
eu me via em um poema por dia
e me fazia refém de meu desejo por liberdade
até me descobrir vazia
a essência como uma
versão da aparência
a sinestesia na relação
música e poesia
vida em versos
o colorido no silêncio
com a polifonia do escuro
a ausência deixa espaço
para mais versos
os dias sempre acabam
em reticências...
terça-feira, 6 de maio de 2008
Meta-auto-biografia
São só ranhuras
Rupturas no som
O espaço entre uma palavra
e a outra
não são as entrelinhas
a música vem no hiato
entre um verso e outro
a palavra cria espaço(s)
na música
para se fazer ouvida
O tom e a cor dessa música
Desses dias
no fortuito e inefável
caminho de volta para casa
Agora olho nos meus olhos
e vejo dos dias que quero
para toda a vida
o pedaço que falta
no vazio
de lacunas e espaços
A falta que me permite
ser inteiro
e ser pleno
domingo, 4 de maio de 2008
Do escambo ao câmbio
Quando o não é ilusão
sua leitura dos meus textos
minha leitura do seu (seu) contexto
eu digo não ao seu sim
na margem do não
à margem do sim