quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Cowboy

E uma vaca vem e estraga tudo...

Não que eu tenha o intuito de fazer apologia aos bovinos ou mesmo depreciar a imagem desse grupo que já é (re)banho que não tão raramente são agraciados com a consideração concedida às divindades. De fato, retifico a assertiva de que o cachorro é o melhor amigo do homem ou que o whisky é companhia melhor por ser um cachorro engarrafado. Vou mais além e uso tal citação apenas para descartá-la. (Talvez sirva de expediente para denunciar alguma entrelinha?) Blefar é uma arte. Talvez da mesma ordem do pedantismo em que se passa a imagem de conhecimentos que não se tem ou da modéstia em esconder algo que se tem. No entanto, blefar beira a ironia. O problema é que quando ambos não funcionam você que passa por idiota. O boi supera quaisquer desses feitos e orgulhosamente carrega aquilo que o homem mais esconde na hipótese de ter sua confiança aproximada da adjetivação traída. O boi se encontra (e é encontrado) como apto a carregar um peso que não é seu e sua força é seu orgulho. Do boi se aproveita tudo, até os degetos viram adubo. Parece paixão, para que tudo soe harmonicamente assim. Paixões se inventam para isso: para as fezes que não deixam de ser fezes sejam consideradas como adubo. Quase uma maquiagem, desconto ou abono para quem faz merda e carrega um peso que ninguém queria carregar. O boi (de piranha ou não) acaba pagando o pato e arca com os ônus de uma conta que não é sua. Como já dizia Malvadinho, o chato do chifre é ter que carregar a vaquinha. No entanto, isso não é problema diante do imenso coração do boi.

As vacas são animais que devem entrar no cio uma vez por toda a existência e assim permanecerem para demandarem sempre cia. Talvez por isso os rebanhos, engodos e gados, talvez por isso. As vacas têm a constituição de suas subjetividades pautada na antítese. São seres marcados pela indecisão existencial e identitária. Sendo complicado discernir de que lado da cerca estão ou mesmo esquecem que mesmo amarradas podem comer capim. O paradoxo e a dualidade são estruturantes dessas subjetividades, que talvez até algumas remetam ao clássico de “oblíqua e dissimulada” ou mesmo permaneçam na ingenuidade distante de alguns fatos não digeridos e ainda em ruminação. Ruminar quase rima com ressentir. E as vacas em suas questões sobre quem são e de que lado estão, ainda se alimentam e alentam o paradoxo de que mesmo quando conseguem estar gordas, bem gordas, muito gordas serem sempre malhadas. Mas são simples com relação a esses estímulos, acham tudo muito colorido por serem animais daltônicos. (Talvez vivam muito bem no colorido mundo dos cegos). As vaquinhas que produzem leite não para os seus, mas para qualquer um estranho que delas possa usufruir. Apenas produzem indistintamente, sem destino ou destinatário, pois não importa o remetente. São coisificadas, a vaquinha da embalagem não é a mesma que eu via sempre no pasto. No pasto, e pisa a grama que a gente cultiva, faz crescer, tem cuidado e como no amor, vem uma vaca e estraga tudo.

Ps – “Cowboy” bem que poderia ter o campo semântico expandido e significar uma vaca fálica. Uma Vaca-garoto! Segundo o menino de “Um tira no Jardim de Infância”, os meninos têm pênis e as meninas têm vagina. Acho que Cowboy poderia ser em alusão a uma vaca fálica!

Ps2- Obviamente, eu sei que a concepção psicanalítica de falo transcende esse mero representante físico masculino. Mas vamos brincar de psicanálise selvagem nesse ensejo, só pra não perder a oportunidade de ficar calado.

Ps3-Pronto! Terceira briga gratuita comprada a um preço superfaturado hoje. Acho que vou lavar dinheiro comprando brigas gratuitas...

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