A chuva como lágrimas de quem se inunda na lama do
lixo do descaso é a mesma água que lava a alma de quem vive a seca? Eu como
tradutor do óbvio, não me repreendo em decretar-me feriado quando chove. Sou
uma pessoa de poucas alegrias e de onde venho a chuva ainda é um evento. Quando
chove para tudo, como se chover não fosse impessoal, mas sim um momento de
comunhão de um bem estar travestido de preguiça com a contemplação dos pingos
de água que já não fingem ser dor ou mágoa. Talvez até lágrimas de uma
coletividade que transborda alegria só do prenúncio de chuva percebido quando
se avista o “tempo bonito pra chover”. Sou do Ceará, por esses tempos quase
Saara, mas nesta seara de nascenças e transcendências, quiçá quis minha vida
que minhas raízes estivessem no ar. Talvez por assim ser um modo de esta muda
de si mesmo se fixar em qualquer lugar e não se prender em nenhum lar. De
qualquer forma, carrego em mim o afeto por esses dias em que a ausência solar
faz um feriado na Terra do Sol.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
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