A dúvida
como companhia, como inseparável dele e quão inerente a ele e sua miséria em
carregar e ter que afirmar o adjetivo humano. A certeza é uma pegadinha da consciência
ou um transgênico do cruzamento da prepotência e da ignorância. Um clichê socrático,
banalizado numa rede social, na estampa de uma camiseta, numa mesa de bar ou
numa manifestação de rua com uma ideologia dadaísta filha de um desejo niilista.
Nada brilhante, tampouco genial ou mesmo
um grande insight. Apenas a constatação do óbvio, do evidente, do escondido no
que é explícito: A vida como algo cru e indigesto, a existência que se constata
como por essência miserável. Somos por essência vazios e talvez daí nossa única
dádiva! Como um vaso que tem seu valor retido naquilo que não tem. Se não fosse
o vazio o vaso era apenas barro.(Como me disse um Chinês em uma tatuagem com
letrinhas orientais no corpo de alguém que eu esqueci o nome). E desse não ter,
não ser, não poder é que se cria um texto sem muito nexo, coesão que chuta o
estômago do sentido, que existe talvez só para livrar alguém de uma ideia que o
impregna. Como se a clareza para se fazer inteligível fosse o norte para o
parto fórceps de um desassossego de uma inquietação como um acorde diminuto
ecoando na sua insônia implorando para ser escrito. Como se o som e os sonhos
pudessem traduzir as palavras que nos limitam pelo imperativo da clareza e do
inteligível, como se para organizar fosse preciso mutilar a ideia, o sentimento
ou que se desejava expressar. Daí tudo isso fica mais claro nos denominadores
comuns do ser humano: a dor, a miséria e a morte. Esta última como um alarme
nos acordando para a lembrança de que corremos contra a finitude e contra os
imperativos do tempo. Às vezes até acho que é nessa esquina entre o nosso vazio
e nossa finitude que são concebidos os poemas, as melodias e as paixões...
paliativos para a solidão e para as dúvidas, como se a Verdade fosse só uma
expressão do medo de pensar que o vazio daquele monte de barro seja preenchido
apenas por uma inexorável solidão, por dúvidas e dívidas com um passado que nos
presenteia com a saudade. E aí você percebe que todo o texto sem sentido até aqui e o todo de tudo aqui que
inquietava antes e agora se resume em uma palavra: saudade.