Não teria verso que rompesse o silêncio daquele coração ou surto de coragem que arrancasse algum texto daquela gaveta. Era o segredo mais oculto, a carta nunca remetida, a história sem fim em um texto nunca lido nem por quem o escreveu. Apenas escrito sem mesmo ser revisado para que nunca fosse lido. Um rascunho em palavras que era representativo de si. Ela guardava seus textos como quem guardava a si mesma. Os textos mais belos permaneceriam desconhecidos tal como ela permaneceria. Escondia suas palavras do mundo e assim se escondia também. Em meios aos sorrisos automáticos, as noites produzidas em série, as pessoas pré-programadas, os relacionamentos protocolados... haveria alguém que pudesse vê-la além disso? Haveria texto a ser escrito depois das reticências?
Por algum instante alguém ousou invadir e arquitetou roubar uma das chaves de tal gaveta. Equívoco primário e surpresa ao descobrir que algumas coisas se guardam
a sete chaves. Pretensão demais em acreditar que algo além da superficialidade havia sido dito. Falar cansa, talvez por isso ela cante e escreva o que ela teria a dizer. “Teria a dizer”, como possibilidade abandonada e não “ter a dizer” como vontade a ser concretizada. Só quem desconfia da força do silêncio saberia o que ela tem dizer.
a sete chaves. Pretensão demais em acreditar que algo além da superficialidade havia sido dito. Falar cansa, talvez por isso ela cante e escreva o que ela teria a dizer. “Teria a dizer”, como possibilidade abandonada e não “ter a dizer” como vontade a ser concretizada. Só quem desconfia da força do silêncio saberia o que ela tem dizer.
E das sete chaves ela fez os muros e as grades, e do silêncio ela fez um hábito. Um exercício diário de quem se fortalece com a própria solidão. Havia um riso cada vez que pensava nas pessoas que se alentam das solidões alheias. Sozinha ela tinha um exército ao seu lado e um campo de batalha no lado esquerdo do peito.
É sempre bom ler os seus bons textos.
ResponderExcluirProvavelmente, foi o texto seu que mais gostei.
ResponderExcluirMuito bom!
Eu achei muito bonito a forma como você usou a 3a pessoa do singular (e não do plural!).
ResponderExcluirMuito legal.
Olha isso...
Não gosto muito da melodia, mas a letra é bonita, veja:
"Maybe the face I can't forget.
A trace of pleasure or regret
Maybe my treasure or the price I have to pay.
She maybe the song that summer sings.
Maybe the chill that autumn brings.
Maybe a hundred different things
Within the measure of a day."
(...)
Fico feliz por se ver alguma beleza na minha 3° pessoa.
ResponderExcluir"She" nesse contexto me fez lembrar uma música do Dylan:
"If you see her, say hello, she might be in Tangier
She left here last early spring, is livin' there, I hear
Say for me that I'm all right though things get kind of slow
She might think that I've forgotten her, don't tell her it isn't so..."