“Considerando que cada interpretação de uma mesma obra
apresenta, no campo da música popular, suas próprias alturas, durações, intensidades,
timbres, densidades, texturas e formas, entendemos que o que é denominado correntemente
de “versão” deve ser entendido como um “original” único, uma composição em si.”
Sérgio Molina- Música de montagem
A ampliação das
perspectivas e dos horizontes estéticos deveria ser algo que invejaríamos
daqueles que se aventuram a usar o adjetivo artista. No entanto, em ambientes
com ares viciados em que a mesma fala é retroalimentada, como os sons que
reverberam em um banheiro, quaisquer produções podem ser distorcidas até o
extremo de que o mero fato de se produzir algo seja válido por si só e isso leve aos outros o imperativo de admirá-lo. A
mesma frase repetida cem vezes viria a se tornar verdade e o a(u)tor talvez
esqueça de descer do personagem compartilhando sua narrativa de luta contra os
dragões ou os moinhos de vento. Mas o que sempre me intrigou não foi Quixote confundir
Tiamat com Drogon, mas sim Sancho dar crédito ao amigo sem nem mencionar a
possibilidade de encaminhá-lo ao CAPS mais próximo. Segue o texto e em paralelo
uma ideia que me chegou na mesma semana por três vias distintas: a citação do
Sérgio Molina em um livro garimpado numa livraria na terrinha e a oportunidade
de ter assistido uma performance de uma banda cover do Pink Floyd que executou
o “Dark Side of the Moon” na íntegra como direito a todos os sons, samplers,
vocais e efeitos que só um fã rogeriano (aquático) demandaria e indiretas por
vias de comunicação alternativas de “pessoas
de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas querendo sempre aquilo que não
tem”. As mesmas músicas de quase 50 anos lidas e relidas de uma forma que só me
lembro de um verso de outros textos e de outras músicas “deve haver alguma
coisa que ainda te emocione”, porque quando nos faltam as palavras inventamos
os poetas (e agradecemos aos deuses pelo Pink Floyd). Nesse interim de
divagações de escritas e sons, as sonoridades se renovam e se reinventam à cada
novo olhar, leitura ou escuta e me remetem a ideia de que as músicas assim como
os fatos não são absolutos em si, mas sim uma pluralidade de interpretações e
intenções em que a única coisa estanque
ou imutável seria a nossa ignorância em não perceber que o infinito está ao
nosso redor e que nesse processo o superestimado artista é só mais um
instrumento para a concepção/execução das canções.
PS- Depois do texto pronto me chegou a ideia de que todas as versões/covers das músicas podem soar como "juntos e shallow now"para alguém e a gente por vaidade ou inocência nem cogita isso quando toca as músicas alheias.
Ps2- Sobre gente que se leva à sério e viram entretainers quando fingem tanto ser bom no que fazem que esquecem que tem gente que já leu aquele roteiro e sabe como o filme acaba... isso ainda me rende um texto... Enfim, o ponto é que o cover mais emblemático de Pink Floyd ainda será o do Falcão em sua releitura de "Another brick in the wall part 2".